sábado, julho 02, 2016

A herança de Fritz Bauer

Fritz Bauer: Agenda Secreta é mais um filme apostado em rever as heranças políticas da Segunda Guerra Mundial para além dos clichés do filme histórico — esta nota foi publicada no Diário de Notícias (30 Junho).

Em anos recentes, pudemos descobrir produções das mais variadas origens que, não necessariamente através dos modelos tradicionais do “filme de guerra”, nos propuseram a redescoberta crítica de alguns elementos fulcrais da Segunda Guerra Mundial. Fritz Bauer: Agenda Secreta pode inscrever-se na mesma lógica histórica a que pertence, por exemplo, Labirinto de Mentiras (2014), de Giullio Ricciarelli. Trata-se de desmontar os mecanismos que, na Alemanha do pós-guerra, tentaram resistir ao conhecimento efectivo do Holocausto e à identificação dos implicados na Solução Final contra os judeus.
Fritz Bauer foi o procurador que, por vezes desafiando os próprios mecanismos legais ao seu dispor, tudo fez para que Adolf Eichmann, responsável pelo transporte de muitos milhares de pessoas para os campos de concentração, fosse entregue à justiça. Centrado numa excelente composição de Burghart Klaussner, este é um exemplo de um cinema tradicional, apostado em observar, com didactismo, as convulsões da história colectiva.