sexta-feira, maio 13, 2016

Elogio de Oren Moverman (2/2)

Richard Gere e Ben Vereen — VIVER À MARGEM
Ao longo de 2016, Viver à Margem, de Oren Moverman, fica, desde já, como uma das grandes estreias da produção americana — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 Maio), com o título 'Hollywood não desistiu do realismo social'.

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Moverman, convém lembrar, não é um principiante, mesmo se este é apenas o seu terceiro título como realizador, depois de O Mensageiro (2009), sobre veteranos da guerra no Iraque, e Rampart – O Renegado (2011), centrado num polícia de Los Angeles assombrado pelas memórias do Vietname, ambos protagonizados por Woody Harrelson. Na sua carreira incluem-se também alguns notáveis argumentos para outros cineastas, com destaque para I’m Not There (2007), a poética deambulação de Todd Haynes pelo universo de Bob Dylan, e Love & Mercy (2014), retrato íntimo e paradoxal de Brian Wilson, o mago musical dos Beach Boys.
A delicadeza com que Moverman sabe organizar os tempos da narrativa, num misto de lentidão contemplativa e aceleração emocional, definem-no como legítimo herdeiro de autores como John Cassavetes (pela relação criativa com os actores) ou Robert Altman (de quem partilha o gosto pela observação de acções tão prolongadas quanto enigmáticas).
A riqueza iconográfica da sua visão realista, especialmente sofisticada nas sequências nocturnas, não será alheia à colaboração com o muito talentoso Bobby Bukowski, director de fotografia de todos os seus filmes. Bukowski voltará a integrar a ficha técnica do novo filme de Moverman, The Dinner, com lançamento previsto para 2017 — será também o reencontro com Richard Gere, desta vez na companhia de um invulgar elenco feminino que inclui Laura Linney, Rebecca Hall e Chlöe Sevigny.