sábado, abril 02, 2016

Quando a câmara fixa a performance

Erwin Wurm
Untitled (Claudia Schiffer series) 2009

Pose ou performance? Tal como a mostra dedicada em 2013 pelo Victoria & Albert Museum a David Bowie não respondia à frase incompleta lançada quando se entrava no espaço expositivo e lia “David Bowie Is...”, também não é objetivo de Performing For The Camera, patente na Tate Modern até 12 de junho, o explicitar desta dúvida. Até porque as fronteiras entre o que é pose e performance podem nem existir. E a proposta daquele conjunto de 14 salas, onde estão expostos trabalhos de 50 fotógrafos, é mais a de observar as relações possíveis entre a câmara e o ato performativo, seja essa uma ideia expressamente criada para ser fotografada ou representando o fotógrafo um veículo documental para o que observa perante uma performance.

A exposição está organizada em sete núcleos, o primeiro representando o esforço documentarista do fotógrafo perante performances de facto, organizadas por artistas entre galerias de arte ou o espaço público. São aqui protagonistas nas imagens as figuras de Yves Klein (entre outras situações, captado na Galerie Internationale d’Art Contemporain em 1960) ou de Yayoi Kusama (em vários “happenings” realizados em Nova Iorque nos anos 60 e 70). A fotografia aqui serve assim de olhar que fixa o processo criativo. Documenta a performance.

O segundo núcleo mostra imagens que resultam de performances expressamente criadas para serem fotografadas. Estão aqui as mais antigas fotografias de toda a exposição, assinadas pelo pioneiro Félix Nadar (1820-1910). E é ainda neste segmento que encontramos a belíssima série que resultou de uma parceria entre Eikoh Hosoe e o bailarino Tatsumi Hijikata, em finais dos anos 60. A ideia do registo da ação criativa, explorando a fotografia os instantes que imaginam os movimentos do imediatamente antes e do logo depois mostram na secção Photographic Actions imagens como a que Andy Warhol captou quando Keith Haring pintava o corpo de Grace Jones ou as que mostram, em três momentos, o instante em que Ai Wei Wei quebrou uma jarra da Dinastia Han, em 1995.

Uma das colaborações entre Eikoh Hosoe 
e o bailarino Tatsumi Hijikata (1969)
A segunda metade do percurso faz-se inicialmente entre figuras icónicas da performance pensada para a câmara, naturalmente com destaque para fotografias de Cindy Sherman, incluindo ainda a série Arthur Rimbaud in New York, de David Wojarowicz. Há depois uma sala que explora relações entre o retrato e a linguagem publicitária, com Jeff Koons como uma das imagens em evidência. E termina com uma série de auto-retratos e uma sala focada na ideia de retrato da vida real como performance, na verdade refletindo aqui sobre uma maneira de pensar a imagem muito característica da comunicação na era das redes sociais. E aqui vale a pena juntar o nome de Amalia Ulman (e s seus trabalhos de 2015) à galeria de ilustres que a exposição nos mostra. Esta é uma história ainda em construção.