quinta-feira, abril 14, 2016

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Andrew Bird, Are You Serious?

Fazia tempo que, de Andrew Bird, não chegava um álbum como este, aberto a vários caminhos e firme na continuação do trilho central da sua obra. O que não quer dizer que tenha estado parado. Antes pelo contrário! Mas a verdade é que, depois de Break It Yourself, editado em 2012, os seus discos focaram especificamente espaços mais focados em conceitos menos abrangentes. Assim, e depois, de Hands Of Glory (2012), que fechava o naipe de músicos a uma pequena mão-cheia de colaboradores, numa gravação executada no celeiro junto à casa de Andrew Bird, seguiram-se Things Are Really Great Here... Sort Of (2014), um álbum de versões de originais da dupla alt-country Handsome Family e Ecolocations: Canyon (2015), o primeiro de uma série de discos instrumentais registados in loco em locais que inspiraram a música para ali composta, contribuindo o próprio cenário para a construção da sua representação feita de sons. Para fazer as contas certas podemos acrescentar que, pelo caminho, houve ainda um EP, de título I Want To See Pulaski at Night (2013), retratando mais uma experiência essencialmente minimalista.

Are You Serious, que de certa forma é assim o sucessor da linhagem central de álbuns – como o já referido Break It Yoyrself ou ainda títulos como os magníficos Andrew Bird and The Mysterious Production of Eggs (2005) ou Noble Beast (2009) – volta a lembrar quão capaz este grande cantautor do nosso tempo é de cruzar ideias e sons para construir canções às quais imprime marcas autorais que imediatamente o identificam.

Há um elemento novo na música de Andrew Bird. Ou, antes, mais evidente do que nunca. Trata-se de uma presença da guitarra elétrica como mais do que mero acessório de fundo, garantindo alguma eletricidade um certo músculo que não surgia há algum tempo nas suas canções. Captsized, estrategicamente escolhido para single de apresentação e colocado agora a abrir o alinhamento, frisa bem esta presença que, logo a seguir, o belíssimo Roma Fade mostra que não é tom dominante, mas antes uma realidade em jogo num álbum que não perde assim o contacto com as heranças folksy e a presença sempre evidente do violino que são tão marcantes na obra de Andrew Bird e que, como em alguns momentos de discos anteriores, demonstra como, como poucos, sabe cruzar toda essa variedade de referencias e timbres, com a busca de um melodismo pop, luminoso e contagiante. Porque, sim, este é um disco de um homem aparentemente feliz. E exemplo maior da boa disposição que parece fazer o seu quotidiano pode encontrar-se nessa pérola que é Left Hand Kisses, magnífico dueto teatralizado no qual Andrew Bird partilha o protagonismo com uma sempre arrepiante Fiona Apple.

Are You Serious dá assim continuidade a uma demanda afinal antiga na obra de um músico que gosta de fazer incursões por outros caminhos, eventualmente reencontrando este trilho central com novos valores, sons, cores e histórias para contar.