domingo, abril 03, 2016

Batman, Super-Homem, televisão & pipocas

A desinformação sobre os "blockbusters" passou a ser a regra, não a excepção — esta crónica de televisão foi publicada no Diário de Notícias (1 Abril), com o título 'As pipocas do Super-Homem'.

Tal como outros “blockbusters” americanos, também Batman v. Super-Homem tem mobilizado televisões de todo o mundo, empenhadíssimas em dar conta das receitas do fim de semana de lançamento do filme. Parece que tudo o que possa envolver números com muitos zeros (“na ordem dos sete dígitos”, como gostam de dizer os analistas dos mercados) corresponde ao mais pueril conceito de grandeza televisiva.
Creio não ser preciso repetir que os filmes não são “bons” ou “maus” por causa do dinheiro que envolvem ou rendem. Este parece-me especialmente medíocre, mas poderia ser uma obra-prima que isso não condicionaria o sentido principal destas linhas.
Acontece que as televisões estão cheias de discursos economicistas, dramatizando os altos e baixos das bolsas ou proclamando o apocalipse de PIBs e seus derivados, mas quando se fala de “blockbusters” americanos, na maior parte dos casos, parece que o dinheiro é um detalhe pitoresco. Raras vezes se diz que os filmes que acumulam centenas de milhões de dólares custaram... centenas de milhões de dólares! E que as respectivas campanhas publicitárias podem duplicar os orçamentos de produção. Enfim, que os valores de bilheteira não entram directamente nos cofres de produtores porque os exibidores ficam com uma percentagem muito significativa...
Assim, as trombetas televisivas que proclamam que Batman v. Super-Homem já acumulou 420 milhões de receitas omitem que o filme custou 250 e que o estúdio terá investido entre 150 e 160 milhões na sua promoção global — só nos canais televisivos dos EUA os gastos deverão ter chegado perto dos 35 milhões. Onde estão estas informações? Em The Hollywood Reporter, uma das mais prestigiadas revistas dedicadas à indústria cinematográfica. Se não fossem fontes como esta, os discursos televisivos dominantes levar-nos-iam a pensar que um “blockbuster” é apenas um derivado de um pacote de pipocas.