FOTO: 'Daily Cristina' |
I. A apresentadora televisiva Cristina Ferreira, autora do site 'Daily Cristina', foi uma das participantes na conferência "Liderança no Feminino. Quando Elas Fazem", realizada no Parlamento, por iniciativa de Assunção Cristas, candidata à liderança do CDS-PP.
II. Na sequência do evento, leio uma notícia [DN] sobre algumas declarações de Cristina Ferreira, em particular sobre a "dificuldade em ser figura pública". Fixo-me, em particular, nestas palavras: "É muito difícil ser Cristina. É muito difícil olhar para o meu filho e saber que ele é filho da Cristina. Não vou muitas vezes buscá-lo à escola para o meu filho não sentir isso. É o mais complicado de gerir na minha vida privada que quase sempre é pública."
III. Porque é que algumas figuras televisivas (com destaque para os protagonistas do mundo do futebol) se designam empregando a terceira pessoa? "Ela-Cristina" já não é "eu-Cristina"? Eis uma involuntária confissão de insegurança — ou apenas uma tentativa de des-responsabilização mediática — que podemos sublinhar. Não porque alguém deva ser penalizado pelas suas muito humanas fragilidades (que todos sentimos), antes porque o facto reflecte uma notória incapacidade de protagonizar as opções de exposição pública que, profissionalmente, assumiram. Afinal de contas, Cristina Ferreira tem surgido como autora de uma visão que não recusa algumas conotações de natureza política, promovendo mesmo uma noção mediática de risco. Quando reconhece que a sua "vida privada" é uma paisagem "que quase sempre é pública", podemos, por isso, perguntar se se trata de uma queixa emocional ou um protesto sobre a dimensão simbólica investida na sua existência — em qualquer caso, a superação de tais problemas apenas depende de si própria. Como? Começando, por exemplo, por recusar a mediocridade social e humana da imprensa que vive da despudorada exploração daquilo que, como ela acaba por reconhecer, apenas pertence ao domínio privado de cada cidadão.