Hou Hsiao-Hsien está de volta com a delicadeza e a perturbação de A Assassina — esta nota foi publicado no Diário de Notícias (17 Março).
Filme de artes marciais? Sim, até certo ponto assim podemos definir A Assassina. Esta é a história de Nie Yinniang (Shu Qi), jovem guerreira dos tempos da Dinastia Tang (séc. VIII) que foi treinada para aniquilar os membros do governo que se entregam a práticas corruptas — até que a encarregam da morte do seu primo...
Uma teia melodramática? Sem dúvida, mas não parece haver um modelo claro em que seja possível “encaixar” o trabalho do cineasta chinês Hou Hsiao-Hsien (nascido em Meixian, em 1947), nome emblemático da produção de Taiwan. Estamos, afinal, perante um objecto de contagiante liberdade narrativa, em que o fulgor do fresco histórico se combina com os artifícios de uma encenação que, à falta de melhor, porventura de forma sugestiva, podemos classificar como operática.
O autor de Tempo para Viver e Tempo para Morrer (1985) e Flores de Xangai (1998) confirma-se, assim, como uma personalidade fulcral na actual produção asiática, conseguindo essa proeza sempre sedutora que consiste em construir o universal a partir dos mais secretos particularismos.