Será que a televisão, sobretudo no seu registo generalista, dá a devida atenção à música? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (4 Março).
Beyoncé e os Coldplay no Super Bowl. Lorde a homenagear David Bowie nos Grammy. Dave Grohl ou Lady Gaga nos Oscars. Foram momentos musicais que, nos últimos tempos, deixaram marcas televisivas fortes. Que é como quem diz: o espectáculo de palco adquiriu uma sofisticação indissociável dos recursos e técnicas da televisão, mesmo quando a respectiva utilização obedece a regras de delicada austeridade (recorde-se a singeleza da performance de Grohl, cantando Blackbird, dos Beatles, na tradicional homenagem aos que faleceram ao longo do último ano).
Tudo isto ao mesmo que tempo que, curiosamente, no mercado do DVD, surgiu o registo da digressão Roger Waters The Wall, retomando os temas do lendário álbum dos Pink Floyd (lançado em 1979). Na verdade, no seu espectacular gigantismo, o concerto concebido por Waters é também devedor de uma imaginação e um imaginário cujas raízes (e técnicas) se cruzam com as componentes específicas do espaço televisivo.
Como espectador, lamento que os eventos musicais não tenham mais significativa presença nos canais generalistas. E os exemplos citados nem sequer são reveladores da imensa variedade de materiais que poderiam integrar programações mais abertas à pluralidade da música. Assim, para além de acontecimentos que pertencem ao calendário do entertainment internacional, existem muitos concertos (ou outro tipo de performances, inclusive em espaços televisivos) que poderiam ser devidamente valorizados por opções mais abertas à diversidade.
Como espectador, lamento que os eventos musicais não tenham mais significativa presença nos canais generalistas. E os exemplos citados nem sequer são reveladores da imensa variedade de materiais que poderiam integrar programações mais abertas à pluralidade da música. Assim, para além de acontecimentos que pertencem ao calendário do entertainment internacional, existem muitos concertos (ou outro tipo de performances, inclusive em espaços televisivos) que poderiam ser devidamente valorizados por opções mais abertas à diversidade.
Em última instância, o que está em causa é a possibilidade de superar os formatos “obrigatórios” (desde o futebol e os debates até aos episódios cada vez mais lamentáveis da “reality TV”) e dar a ver o que, de uma maneira ou de outra, é eminentemente popular. A não ser que alguém queira demonstrar que Beyoncé ou Lady Gaga são nomes insondáveis da música mais experimental e inacessível...