A esmagadora maioria das evocações de Douglas Slocombe — falecido a 22 Fev. 2016 [NYT], poucos dias depois de ter completado 103 anos — destacou o seu contributo para os filmes da saga de Indiana Jones, o primeiro dos quais, Os Salteadores da Arca Perdida (1981), lhe valeu a sua terceira e última nomeação para o Oscar de melhor fotografia (que nunca ganhou). Claro que a contribuição de Slocombe para o visual daquela inovadora saga de aventuras não pode ser secundarizado. Em todo o caso, importa sublinhar que, muito antes do seu envolvimento com a produção de Hollywood, ele foi um dos mais dignos representantes das qualidades do cinema britânico, em particular através da sua ligação com os lendários estúdios Ealing. Aqui ficam três exemplos da refinada arte de Slocombe na encenação da luz e das cores.
>>> O HOMEM DO FATO CLARO (1951) — Dirigido pelo grande Alexander Mackendrick, com Alec Guinness num dos seus papéis mais lendários, constitui um puro exemplo clássico de uma comédia social capaz de integrar os mais inusitados "desvios", neste caso através da actividade de um cientista "louco", não muito disponível para satisfazer as leis do seu estatuto social.
>>> O CRIADO (1963) — Um dos grandes filmes que o americano Joseph Losey dirigiu em Inglaterra e também uma das mais ricas e complexas interpretações de toda a carreira de Dirk Bogarde. Visão contundente do sistema de classes britânico, atravessada por um subtil subtexto homossexual, foi a primeira colaboração de Losey com o argumentista/dramaturgo Harold Pinter.
>>> POR FAVOR, NÃO ME MORDA O PESCOÇO (1967) — A maravilhosa paródia de Roman Polanski aos clássicos de vampiros contém reminiscências do espírito de absurdo de narrativas da Europa central; se tal decorria das raízes culturais do realizador, o certo é que Slocombe soube interpretá-las através de uma direcção fotográfica que tem tanto de realismo carnal como de assombramento cenográfico.