Agora, quatro anos depois de um inconsequente Animal Joy, a pausa cobra dividendos ao mostrar finalmente em Jet Plane and Oxbow o momento em que os Shearwater deixam de ser a banda-arrecadação das canções não usadas dos Okkervil River e encontram, por sim, um desafio a cumprir. Cabendo à entrada em cena das electrónicas e de uma nova forma de trabalhar o som os argumentos na base do que de novo depois emerge nas canções que fazem do alinhamento do disco que pode assim discutir com Rook (o paradigma da etapa inicial) o estatuto de álbum mais significativo da carreira (até à data) dos Shearwater.
Que a opção estética, que revela uma busca de pistas em memórias de discos dos Talking Heads nos oitentas, do histórico encontro de Brian Eno com David Byrne em 1981 ou do sentido de elegância com teclados analógicos ao colo que lembramos dos Talk Talk, não nos iluda sobre o que depois representa o disco. Se musicalmente Jonathan Meibug e companheiros olharam para trás para pensar o que fazer adiante, já na hora de pensar o que dizer focaram atenções na América do presente, num álbum profundamente crítico e político que reflete sobre um país dividido, a sua relação com os seus e com os outros. Este é um álbum descrente, desencantado, por vezes quase revoltado com o universo que toma como objeto sobre o qual aqui mais não faz afinal senão um grande disco de protesto. Acende-se assim uma voz atenta, que coloca dedos na ferida, e que emerge curiosamente no Texas, um dos contrafortes políticos da América mais conservadora.
Com um single surpreendente (e bem diferente do que aquilo que até aqui tínhamos associado à banda) em Quiet Americans, a servir de perfeito aperitivo para uns Shearwater diferentes, eis que temos em Jet Plane and Oxbow não apenas mais um disco a juntar à lista de grandes momentos que janeiro de 2016 nos deu a ouvir (juntamente com David Bowie e Pete Astor), mas uma primeira grande reflexão sobre a América no ano em que se adivinha ali a eleição mais disfuncional de sempre.