João Botelho "documenta" o trabalho de quatro artistas, reavaliando as relações entre as formas e as suas matérias inspiradoras — este texto foi publicado no Diário de Notícias (28 Janeiro), com o título 'Filmar a arte e a natureza'.
Quatro artistas: João Queiroz, Jorge Queiroz, Pedro Tropa e Francisco Tropa. O filme Quatro, de João Botelho [estreado em 2014, no Doclisboa] descobre-os, antes do mais, a partir de um austero didactismo: quatro capítulos numerados para propor uma deambulação pelos seus trabalhos (desenho, pintura, fotografia, escultura) e pelas condições materiais da respectiva produção — estamos, enfim, perante o rigor de um documentarismo seduzido pela pluralidade do labor das formas e com as formas.
Ao mesmo tempo, tudo isso vai encontrando ecos, rimas e hipóteses simbólicas nos elementos de uma natureza exuberante que, por assim dizer, cerca os artistas numa clausura paradoxalmente libertadora. Os resultados são magníficos: a partir de um modelo (“documentário-sobre-arte”) saturado de clichés televisivos, Botelho consegue fazer um filme de tocante beleza e metódica elegância que está longe de se reduzir a um “intervalo” criativo. Nada disso: Quatro tem a dimensão, o peso e a importância de um objecto que cristaliza temas e obsessões de todo o universo criativo do cineasta.