No universo de Taylor Swift, o requinte, sem dúvida sedutor, da fabricação industrial coexiste com a sensação de um infinito processo de remake de matrizes pop que outros e outras (Blondie, Bananarama, Madonna, hélas!...) já aplicaram com uma subtileza criativa que a ela sempre lhe falta. Porventura um sintoma revelador desse processo que tem tanto de musical como de tecnocrático está na evolução dos seus telediscos e, mais concretamente, na sua contaminação digital.
Há poucos meses, o triunfo de Bad Blood nos prémios MTV emergiu como exemplarmente revelador: a concepção hiper-tecnológica do teledisco significa, em última instância, que a encenação da canção já não é uma prioridade, privilegiando-se a mera ostentação dos meios devedores de matrizes publicitárias.
O novo teledisco de Swift, revelado na noite de fim de ano, representa um passo mais nessa lógica, não por acaso apropriando-se de (ou promovendo) um conceito virtual de Natureza. Vogamos, afinal, num território herdado da degradação figurativa de fenómenos como a saga Twilight, incapaz de tratar dois elementos decisivos — a paisagem e a presença animal — de outro modo que não seja a sua banal e repetitiva instrumentalização digital. No limite mais desconcertante de tudo isto, esta música que se quer sensual e hiper-erotizada não possui qualquer programa ou método para representar os corpos e a sua irredutibilidade — vale a pena conhecer e reflectir sobre a gélida existência de tudo isso.