quinta-feira, dezembro 03, 2015

Novas edições:
The Wainwright Sisters, Songs in the Dark

O hábito de colaborar, trocar canções e juntar ideias e esforços não é coisa invulgar entre as famílias dos manos Wainwright. Há, de resto, várias carreiras a correr entre estas duas mais recentes gerações de músicos. Além do cantor Loudon Wainwright III, que é o elo comum entre Rufus, Martha e a mais nova Lucy, o par feito pelas irmãs Kate e Anna McGarrigle (respetivamente mãe e tia dos dois primeiros) foi referência maior na história da folk canadiana, e a as The Roches, trio ao qual pertence Suzzy Roche (a mãe de Lucy), são um nome conhecido pelo trabalho de harmonias vocais tendo colaborado, entre muitos outros, com Philip Glass no álbum de 1986 Songs From Liquid Days. Após várias parcerias e reuniões em palco ou em disco, que nos deram entre outros álbuns como The McGarrigle Hour ou o disco de Natal The McGarrigle Christmas Hour, um novo par entra em cena, trazendo de resto ecos da (boa) memória das experiências folk da mãe Kate e da tia Anne. As manas Martha e Lucy, ambas já com discografia assinada em nome próprio – a primeira estreou-se em 2002 em Martha Wainwright, a segunda em 2010 com Lucy – estreiam agora o projeto The Wainwright Sisters. E fazem-no num álbum uma vez mais pleno de ressonâncias a memórias familiares.

Fiel a tradições várias dentro do clã McGarrigle/Roche/Wainwright, Songs in the Dark é uma coleção de canções que as duas irmãs tiveram como lullabies que lhes foram em tempos cantadas na hora de dormir. O disco junta um conjunto de 16 canções, todas elas de outros autores que não as duas manas protagonistas, havendo contudo espaço para ligações familiares em momentos que recordam temas dos respetivos pais e mães. O grosso do alinhamento faz-se contudo de uma seleção de temas folk que cruzam ecos da Irlanda com os da América profunda, abrindo outros horizontes geográficos quando cantam El Condor Passa, um tradicional andino, evocado todavia via Simon & Garfunkel.

O disco, que convoca memórias de autores como Irving Berlin, Townes Van Zandt ou Richard Thompson, além de um corpo de peças de raiz tradicional, mantém as abordagens dentro das tonalidades das canções de embalar, a placidez dos jogos vocais das duas irmãs e das suas guitarras acústicas acolhendo discretos arranjos nos quais o leque de cores se alarga às presenças de um piano (interpretado pela tia Anne), baixo (pelo marido de Martha, Brad Albetta, que também foi aqui o engenheiro de som), violino, banjo, harmónica e poucos mais. Rufus, para quem em tempos Lucy fez primeiras partes, está ausente.

Não será um álbum para reinventar a folk. Antes, um espaço de registo de memórias, ao mesmo tempo que garante um passo mais na continuação de hábitos de família. Nada mal em seguir certas tradições. E as manas Wainwright fazem-no bem aqui.