1. Cruel ironia: não é fácil falar de imagens de nus. Porquê? Por certo porque a nudez envolve um despojamento que não anula uma profunda teatralidade. A saber: como falar daquilo que, realmente ou ilusoriamente, nos aproxima de uma verdade primordial?
2. Acontece que a estupidez liberal dos nossos tempos se confunde com um moralismo cego. Na prática, a nudez tende a ser apresentada em função de uma dicotomia "pró ou contra" que, além do mais, promove uma ignorância letal em relação à existência (histórica e estética) da nudez como ancestral signo de expressão humana.
3. Os novos nus do fotógrafo holandês Erwin Olaf constituem um exemplo cristalino da capacidade de colocar em cena a singularidade do humano. Não são fotografias "ousadas" (como diz o jornalismo mais medíocre face à revelação de um qualquer nu de algum "famoso"), são imagens que desafiam a própria noção de que a nudez é um "revelador" de um mais além da significação humana — bem pelo contrário, o que aqui descobrimos é a estranheza indizível, porventura indecifrável, do corpo como signo natural do humano. Em última análise, compreendemos que o corpo não é a expressão de uma natureza universal e unívoca ("nua", precisamente), mas sim a tela viva de um alfabeto que convoca o nosso olhar para o radicalismo sem nome da beleza — 'Skin Deep'.