quarta-feira, novembro 11, 2015

As lágrimas de Teresa Guilherme

1. Há toda uma cultura — televisiva & jornalística — que não acredita (ou quer que não acreditemos) na irredutibilidade das emoções humanas, na sua infinita pluralidade.

2. É uma cultura que tem um espaço privilegiado de expressão e retórica no futebol, levando, por exemplo, os ansiosos repórteres a convocarem os jogadores de futebol para delírios cartesianos sobre as emoções: "Então, o que sentiu no momento do golo?..."

3. Não por acaso, essa cultura instalou-se de armas e bagagens nos territórios da reality TV. De tal modo que os mais boçais dos respectivos concorrentes são sempre tratados como magos dos enigmas emocionais, metodicamente temperados por considerações de carácter mais ou menos genital — aliás, na reality TV, cada ser humano tende a ser definido apenas pela acumulação de proezas sexuais.

4. Como se prova, nem mesmo a apresentadora mais emblemática de tais programas escapa a essa maldição, neste caso, segundo a notícia, chorando o "falhanço" do próprio programa que lidera — como se níveis superiores de audiência apagassem o falhanço humano de tudo isto.

5. Não faria sentido discutir o "significado" das lágrimas de Teresa Guilherme — não se trata de virar contra ela o próprio dispositivo que encarna e reproduz. Acontece que é triste que, no espaço mediático, nem ela escape a tão grosseira representação dos comportamentos humanos.