Dir-se-ia que, tal como a sua personagem em Nós Somos Teus Amigos, Zac Efron continua à procura de um lugar em Hollywood — este texto foi publicado no Diário de Notícias (26 Agosto), com o título 'Aventuras de um DJ no país de Hollywood'.
Ciclicamente, cedemos a uma certa nostalgia que nos leva a lamentar o desaparecimento do musical como matriz regular do cinema. Temos mesmo esse vício que, face a um musical isolado, nos leva a perguntar: será desta que o género é relançado?... Não é, não pode ser. E uma das (muitas) razões que pode ajudar a explicar o seu esvaziamento é o facto de as gerações mais novas não terem sido educadas nos seus artifícios e valores de espectáculo.
O assunto ressurge a propósito da estreia de Nós Somos Teus Amigos, primeira longa-metragem de Max Joseph, ele próprio de uma geração “thirtysomething” (nasceu em 1982, em Nova Iorque) que já não conheceu o musical como presença regular nas salas. Na verdade, os protagonistas são símbolos de uma outra relação (bem diferente!) com as matérias musicais: esta é a saga de Cole Carter, um DJ especializado em música electrónica de dança que, juntamente com os três melhores amigos, alimenta o sonho de transcender os limites da sua zona de Los Angeles, conquistando um lugar na indústria e na mitologia de Hollywood.
O filme tem a seu favor a energia de alguns actores. E não deixa de ser curioso sublinhar que o intérprete de Carter é Zac Efron (n. 1987), precisamente um nome cujo talento descobrimos através de um musical — foi em 2007, em Hairspray, de Adam Shankman (inspirado num espectáculo da Broadway que, por sua vez, tinha como ponto de partida o filme homónimo de 1988, dirigido por John Waters). O certo é que, apesar de alguns momentos invulgares — lembremos a participação em The Paperboy (2012), de Lee Daniels, contracenando com Nicole Kidman —, a carreira de Efron tem sido tudo menos consistente.
Nós Somos Teus Amigos pode ser tomado como um emblema perverso da indefinição a que Efron chegou — e que, afinal, o filme duplica. Por vezes, Max Joseph parece querer citar o negrume de sexo e drogas que perpassa na visão de um Bret Easton Ellis, em particular no seu primeiro romance, Menos que Zero (adaptado ao cinema em 1987, por Marek Kanievska); noutros momentos, o filme confunde-se com uma colagem de telediscos mais ou menos agitados e pueris; enfim, a relação de Cole com o seu mentor, James (Wes Bentley), constitui uma derivação dramática saturada de clichés.
Estamos perante um filme cujo valor sintomático nunca consegue transcender uma certa superficialidade “sociológica”. É pena, tanto mais que, por detrás do esforço de Max Joseph, pressentimos a vontade de conseguir criar um objecto de culto da (e para a) geração retratada.