domingo, agosto 16, 2015

"Missão Impossível" soma e segue

Missão Impossível chegou ao seu 5º episódio, porventura o que mais se aproxima da excelência do primeiro, dirigido por Beian De Palma em 1996 — este texto foi publicado no Diário de Notícias (13 Agosto), com o título 'Tom Cruise volta a desafiar o impossível'.

Como falar do novo episódio de Missão Impossível, com Tom Cruise? Como celebrar a sua invulgar energia sem sermos afectados pelos estilhaços de uma guerra “cinéfila” que tende a tratar a cinema americano em função de um maniqueísmo pueril que “obriga” a estar pró ou contra “tudo” o que nele se faz?
Isto porque, vale a pena recordá-lo, existe um muito antigo preconceito anti-crítica que continua a ter mais força que qualquer serena argumentação (ou simples evocação de factos). Assim, basta um crítico formular um juízo de valor menos positivo sobre um “blockbuster” de Verão para alguém vir proclamar que o fulano, insolente, está “contra o cinema americano”...
1996
A anedota vem a propósito, quanto mais não seja para dizer que a eventual visão negativa de, por exemplo, Vingadores: a Era de Ultron não decorre de qualquer ignorância da frondosa tradição de espectáculo que marca todas as épocas de Hollywood. É mesmo por causa do conhecimento de tal tradição que, hoje em dia, podemos ser levados a considerar que alguns “blockbusters” já não são feitos por criativos, mas apenas por tecnocratas formados em Wall Street, por certo talentosos no seu domínio, mas sem o mais pequeno sentido do que seja construir uma narrativa cinematográfica. Chega-nos agora, muito a propósito, um belo contra-exemplo: precisamente Missão Impossível: Nação Secreta, dirigido por Christopher McQuarrie, com Tom Cruise a assumir pela quinta vez a personagem de Ethan Hunt.
Digamos que, quase vinte anos passados sobre o primeiro título da série, Missão Impossível (1996), brilhantemente realizado por Brian De Palma, não seria fácil manter a energia de um universo que, por vezes, pareceu ceder a um estilo mais próprio das aventuras de “super-heróis” — foi, sobretudo, o caso de Missão Impossível II (2000) e Missão Impossível 3 (2003), dirigidos por John Woo e J. J. Abrams, respectivamente. Curiosamente, em Missão Impossível: Operação Fantasma (2011), assistíramos a uma certa aproximação de uma exuberância visual que não era estranha ao mundo dos desenhos animados, por certo influenciada pela direcção de Brad Bird, responsável por filmes como The Incredibles – Os Super-Heróis (2004) e Ratatouille (2007).
O mínimo que se pode dizer do novo Missão Impossível: Nação Secreta é que, no plano temático, envolve um metódico regresso aos fundamentos deste universo. De facto, desta vez, Ethan Hunt e os seus fiéis companheiros do IMF (Impossible Missions Force) são confrontados com um misterioso “Sindicato” internacional que integrou agentes secretos das mais diversas origens, muitos deles dados como mortos ou desaparecidos... Dito de outro modo: muito à maneira da série televisiva original — de que se fizeram 171 episódios ao longo de sete temporadas (1966-1973) —, esta é uma aventura em que tudo pode ser uma simulação, num jogo de máscaras em que cada personagem oscila entre aquilo que é e aquilo que parece, entre a verdade da sua acção e a imagem que provoca nos outros.
2015
Por certo uma das cenas mais complexas e inventivas dos cinco filmes da série, todo o segmento que tem lugar na Ópera de Viena constitui um exemplo modelar das virtualidades deste tipo de espectáculo. Oscilando, literalmente, entre o palco e os bastidores, é também um excelente exemplo do modo como o novo filme sabe explorar os recursos específicos das salas IMAX, a começar, naturalmente, pela grandeza física do ecrã, sem esquecer o poder envolvente do som (por alguma razão, em todo o mundo, a começar por Portugal, as chamadas pré-estreias de Missão Impossível: Nação Secreta foram realizadas nessas salas).
Seja como for, no centro do continuado impacto de Missão Impossível está um facto pouco comum na maior parte das correntes “franchises”: a permanência da personagem de Ethan Hunt é indissociável do regresso de Tom Cruise como intérprete. Aliás, em boa verdade, este é, desde o primeiro título, um projecto em que Cruise surge na dupla qualidade de actor e produtor.
Será que, já cinquentenário (nasceu a 3 de Julho de 1962), Cruise poderá continuar a assumir as atribulações de Ethan Hunt? Dizem as crónicas de rodagem que ele gosta de arriscar, em muitas cenas dispensando os habituais duplos. Além do mais, poucos dias depois da estreia mundial de Missão Impossível: Nação Secreta, Rob Moore, vice-presidente da Paramount, veio anunciar que o episódio nº 6 já começou a ser pensado. Data de Estreia? Junho ou Julho de 2017.