Apesar de uma carreira globalmente discreta, Yvonne Craig ficou para a história como ícone televisivo, graças à sua interpretação de Batgirl — este obituário foi publicado no Diário de Notícias (20 Agosto), com o título 'Morreu a actriz que interpretou Batgirl na televisão'.
Há actores e actrizes que, por boas ou más razões, ficam marcados por uma única personagem, numa espécie de assombramento mitológico. Assim aconteceu com Yvonne Craig. Apesar de uma carreira relativamente extensa, o seu nome será sempre associado à Batgirl da série televisiva Batman, produzida na segunda metade dos anos 60: Yvonne Craig faleceu na segunda-feira, na sua casa de Pacific Palisades, na Califórnia, vítima de cancro da mama — contava 78 anos [New York Times].
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Na história audiovisual dos super-heróis, a série constitui uma referência incontornável, tendo sido a estreia de Batman no pequeno ecrã (na década de 40, a figura do justiceiro de Gotham City tinha já dado origem a dois típicos “serials” para cinema). A série televisiva, embora não tenha sido das mais duradouras — foram emitidos 120 episódios, durante três temporadas, entre Janeiro de 1966 e Março de 1968 — constituiu um fenómeno invulgar de popularidade, ainda hoje objecto de culto para muitos espectadores, especialmente fascinados pelo “kitsch” das suas histórias e do seu universo visual.
Yvonne Craig surgiu apenas para a terceira temporada, interpretando a figura de Batgirl, aliada de Batman e Robin (interpretados, respectivamente, por Adam West e Burt Ward) na luta contra o crime. Com o seu fato púrpura e amarelo, a actriz rapidamente conquistou uma legião de fãs que a entronizaram como modelo de um heroísmo feminino, algo paródico no seu ingénuo feminismo.
Na trajectória profissional da actriz, a interpretação de Batgirl representou uma espécie de compensação para o relativo falhanço da sua carreira no cinema. Na verdade, começou como bailarina, tendo integrado o Ballet Russo de Monte Carlo. Foi a partir de finais dos anos 50 que tentou a sua sorte em Hollywood, surgindo em títulos como The Young Land (1959), um western dirigido por Ted Tetzlaff, Ritmos Modernos (1959), uma biografia do baterista Gene Krupa realizada por Don Weis, ou Ruivas, Loiras e Morenas (1963), de Norman Taurog, uma das muitas comédias românticas protagonizadas por Elvis Presley.
Na altura, Yvonne Craig estava já envolvida em muitos projectos de televisão, tendo participado entre 1958 e 1965 em séries como Perry Mason, The Barbara Stanwyck Show, The Dick Powell Show, Dr. Kildare ou O Homem da U.N.C.L.E. A sua carreira poderia ter sofrido uma viragem decisiva quando foi considerada como uma hipótese para integrar o elenco de West Side Story (1961) — ainda fez um “casting” para a personagem nuclear de Maria, mas seria Natalie Wood a ficar com o papel.
Curiosamente, para além de Batgirl, a sua personagem mais célebre aconteceu também em televisão, noutro universo de típico artifício espectacular, de alguma maneira aplicando as suas competências no domínio da dança. Foi no episódio nº 14 da terceira temporada de Stark Strek, emitido em Janeiro de 1969: Yvonne Craig interpretava Marta, uma escrava de pele verde que era também uma bailarina exótica do planeta Elba II.
Apesar de ter continuado a surgir em diversas séries televisivas (Kojak, Fantasy Island, etc.), a sua carreira foi-se desvanecendo ao longo da década de 80, tendo mesmo optado por trabalhar na compra e venda de imobiliário. Publicou as suas memórias, From Ballet to the Batcave and Beyond, no ano 2000.
>>> Genérico de abertura da terceira temporada da série televisiva Batman (1967-68).