segunda-feira, agosto 03, 2015

A morte de Deus [citação]

>>> Nietzsche é o primeiro a ensinar-nos que não basta matar Deus para operar a transmutação dos valores. Na obra de Nietzsche, as versões da morte de Deus são múltiplas, uma quinzena pelo menos, todas de uma grande beleza. Mas precisamente, depois de uma das mais belas, o assassino de Deus é "o mais hediondo dos homens". Nietzsche quer dizer que o homem se desfeia ainda mais quando, já não tendo necessidade de uma instância exterior, se proíbe a si próprio aquilo que lhe interditavam, e se encarrega espontaneamente de uma polícia e de encargos que já não parecem provir do exterior. Assim, a história da filosofia, dos socráticos aos hegelianos, permanece a história das longas submissões do homem, e das razões que ele se dá para as legitimar.

GILLES DELEUZE
PUF, Paris, 1965