"Can’t Forget: A Souvenir of The Grand Tour"
Sony Music
Numa época na qual muitos consumos na cultura popular valorizam sobretudo os valores da novidade imediata, a próxima chegando logo a seguir em regime rei morto rei posto, a perenidade e vitalidade obra de veteranos como Bob Dylan, David Bowie, Tom Waits ou Leonard Cohen são verdadeiros bálsamos, muitas vezes traduzindo mais verdade e frescura que tantas novidades fabricadas ao jeito dos sabores do momento (e que logo serão esquecidas mal mude o azimute dos paladares). Em 2014, aos 80 anos, apresentou o álbum de estúdio Popular Problems no qual ficou claro que ainda tem histórias para contar e até mesmo desejos em, alguns instantes, explorar musicalmente novos desafios. Ainda em 2014 lançou depois o disco ao vivo Live in Dublin. Agora, um ano depois, em Can’t Forget: A Souvenir of the Grand Tour, revela-se uma outra face do seu trabalho num disco que traz registos captados durante a sua mais recente (e longa) digressão.
Se por um lado este é já o quarto título nascido de registos gravados durante a digressão, por outro Can’t Forget: A Souvenir of the Grand Tour é um álbum diferente uma vez que junta a instantes de concertos, alguns outros momentos captados durante soundchecks, havendo assim ali um espaço para experimentar ideias antes de as mostrar frente a uma plateia.
Se por um lado há aqui um ou outro velho clássico – como Field Commander Cohen, com um cheirinho de Rhum and Coca Cola, o velho clássico de 1945 das Andrews Sisters – os acepipes mais desejados entre o alinhamento do novo disco são dois temas nunca antes mostrados em disco e versões de La Manic de Georges Dor e Choices, de George Jones. Never Gave Nobody Trouble, um blues em tons próximos de alguns instantes de Popular Problems, o também novo Got A Little Secret (em tempero R&B clássico) e uma nova leitura de Joan of Arc, gravados em ensaios, são tesouros maiores de um alinhamento que justifica a soma de mais um título na discografia de Cohen.
As suas palavras ocasionais, de contador de histórias bem humorado, juntam a dada altura instantes igualmente memoráveis a este conjunto de gravações.
Nos últimos anos habituámo-nos a esperar mais a surpresa e menos o silêncio de um vulto que teima (felizmente) em não baixar braços e a sair de cena. Can’t Forget: A Souvenir of the Grand Tour tem tudo menos o tom de despedida que em tempos julgávamos estar registado no álbum Old Ideas ou na primeira coleção de gravações nascida da digressão que depois o devolveu à estrada (com várias e bem sucedidas visitas a estes lados). Ou seja, ficamos à espera das cenas dos próximos capítulos…
Este texto foi originalmente publicado na Máquina de Escrever