CD, Marathon Artists / Popstock
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Estará na hora de juntar uma nova voz a um grupo seleto de vozes femininas que usam o saber da palavra e a angulosidade da guitarra para desenhar canções que são expressão do que somos e do tempo em que vivemos? Talvez seja cedo para conclusões de longo prazo, mas a verdade é que depois de promissores EPs lançados ao longo dos dois últimos anos, a estreia em álbum da australiana Courtney Barnett não só confirma em pleno as melhores expectativas como nos coloca perante um dos melhores discos que a cultura rock nos mostrou nos últimos tempos (e convenhamos que tem sido departamento em relativa dieta de boas ideias nos anos mais recentes).
O cativante, bem humorado e longo título Sometimes I Sit and Think and Sometimes I Just Sit sugere que há talvez aqui alguém que pense mais que apenas se sente sem pensar. E é na força dos jogos de palavras, que escutamos por uma voz entre o falado e cantado, que com bom humor e também a crua franqueza com que nos diz que se a pusermos num pedestal nos vai desiludir, que pode residir uma primeira abordagem a um conjunto de canções das quais, audição após audição, surge precisamente a ideia do contrário do alerta lançado. Ou seja: não desapontam (mas vale a pena não a colocar já num pedestal, que há ainda muita estrada e conquistas pela frente). Nota-se sobretudo um saber de contador de histórias, tendo já havido que a apontasse como continuadora de uma escola (também vinda daqueles lados do mundo) que teve os Go Betweens – ou seja a dupla Grant e McLennan – como referência maior (e que responsabilidade nesta comparação!).
Musicalmente o disco não foge ao que os EPs já conhecidos sugeriam (e aí afasta-se do terreno dos criadores de Cattle and Cane). Ou seja, há por aqui ecos de uma formação feita entre heranças do grunge e de uma certa luminosidade brit pop (não deixo de pensar nas Elastica ao escutar Pedestrian at Best ou nuns Sleeper ao ouvir Aqua Profunda!) e em Debbie Downer há mesmo umas teclas subtis com alma vintage que lembram a ingenuidade pop da new wave de primeira geração). Há também aquele tom desencantado na relação do canto com a guitarra que Patti Smith ou PJ Harvey assimilaram e transformaram cada qual na sua voz. E há sobretudo sinais de não alinhamento nas muitas micro-tendências dos caminhosindie recentes. Courtney Barnett tem a sua voz, as suas memórias, conta as suas histórias e estas são as suas canções.
As canções revelam uma alma inteligente, atenta e capaz de escrever pequenos retratos do mundano desinteressante do nosso tempo e comentários sobre pequenos nadas na forma de canções simples e diretas. O alinhamento de Sometimes I Sit and Think and Sometimes I Just Sit foge (sem a intenção de mostrar que está a fugir) aos sabores do momento. Cruza uma intemporalidade rock’n’roll com um gosto vintage por referências da cultura elétrica de finais do século XX. Ao contrário do que o título sugere, o rock aqui levanta-se da cadeira, vibra e pensa.
Courtney Barnett é nome a acompanhar com atenção e este álbum é um dos melhores cartões de visita em clima rock que o ano escutou neste primeiro trimestre.
O cativante, bem humorado e longo título Sometimes I Sit and Think and Sometimes I Just Sit sugere que há talvez aqui alguém que pense mais que apenas se sente sem pensar. E é na força dos jogos de palavras, que escutamos por uma voz entre o falado e cantado, que com bom humor e também a crua franqueza com que nos diz que se a pusermos num pedestal nos vai desiludir, que pode residir uma primeira abordagem a um conjunto de canções das quais, audição após audição, surge precisamente a ideia do contrário do alerta lançado. Ou seja: não desapontam (mas vale a pena não a colocar já num pedestal, que há ainda muita estrada e conquistas pela frente). Nota-se sobretudo um saber de contador de histórias, tendo já havido que a apontasse como continuadora de uma escola (também vinda daqueles lados do mundo) que teve os Go Betweens – ou seja a dupla Grant e McLennan – como referência maior (e que responsabilidade nesta comparação!).
Musicalmente o disco não foge ao que os EPs já conhecidos sugeriam (e aí afasta-se do terreno dos criadores de Cattle and Cane). Ou seja, há por aqui ecos de uma formação feita entre heranças do grunge e de uma certa luminosidade brit pop (não deixo de pensar nas Elastica ao escutar Pedestrian at Best ou nuns Sleeper ao ouvir Aqua Profunda!) e em Debbie Downer há mesmo umas teclas subtis com alma vintage que lembram a ingenuidade pop da new wave de primeira geração). Há também aquele tom desencantado na relação do canto com a guitarra que Patti Smith ou PJ Harvey assimilaram e transformaram cada qual na sua voz. E há sobretudo sinais de não alinhamento nas muitas micro-tendências dos caminhosindie recentes. Courtney Barnett tem a sua voz, as suas memórias, conta as suas histórias e estas são as suas canções.
As canções revelam uma alma inteligente, atenta e capaz de escrever pequenos retratos do mundano desinteressante do nosso tempo e comentários sobre pequenos nadas na forma de canções simples e diretas. O alinhamento de Sometimes I Sit and Think and Sometimes I Just Sit foge (sem a intenção de mostrar que está a fugir) aos sabores do momento. Cruza uma intemporalidade rock’n’roll com um gosto vintage por referências da cultura elétrica de finais do século XX. Ao contrário do que o título sugere, o rock aqui levanta-se da cadeira, vibra e pensa.
Courtney Barnett é nome a acompanhar com atenção e este álbum é um dos melhores cartões de visita em clima rock que o ano escutou neste primeiro trimestre.
Este texto foi originalmente publicado na Máquina de Escrever