terça-feira, dezembro 30, 2014

O melhor de 2014, segundo Isilda Sanches

Além das nossas continuamos a publicar também as listas de alguns amigos convidados. Hoje é vez da Isilda Sanches (Oxigénio) nos dar o seu retrato do ano na música. Um muito obrigado à Isilda pela colaboração.

Álbuns internacionais (ordem alfabética)

Actress "Ghettoville"
Andras Fox "Vibrate On Silent"
Art Wilson "Overworld"
Cooly G "Wait Til Night"
Dangelo "Black Messiah"
Flying Lotus "You're Dead"
Fumaça Preta "Fumaça Preta"
Moodymann "Moodymann"
Shabazz Palaces "Lese Majesty"
Silk Rhodes "Silk Rhodes"


Canções/Temas 

1 DJ Lycox "O Tempo da Vida"
2 Solar Shield "Reesis"
3 House of Spirits “Holdin On” (remix Peaking Lights)
4 Banks "Waiting Game"
5 Omar S "Frogs"
6 Moodymann "Lyke u use 2"
7 Capicua "Vayorken"
8 Jamie XX "All Under One Roof Raving"
9 FKA Twigs "2 Weeks"
10 Far Out Monster Disco Orchestra "Don't Cha Know He's Allright"


Produção nacional

Atropelando as considerações gerais sobre um ano que não parece ter sido bom para (quase) ninguém, passa-se directamente à música. Pelo menos nesse capiíulo continuamos em contra corrente.

2014 foi um ano em que a editora Príncipe Discos continuou a explorar a musica que nasce nos subúrbios de Lisboa a partir de raízes em África (destaque para o maravilhoso "Tá Tipo Já Não Vamos Morrer", Ep de Tia Maria Produções, mas também para a internacionalização dos Djs Marfox e Nigga Fox, no caso de Marfox também pela edição do ep "Terra Batida" na nova-iorquina Lit City Trax e pela remistura para Tune Yards). Ainda com fortes ligações a Africa, 2014 foi o ano da confirmação de Batida com o álbum "2" na Soundway Records e colaborações com gente como Spoek Mathambo (África do Sul) e Dj Satélite (Angola) ou a remistura para “Heavy Seas Of Love” de Damon Albarn. África também no coração de Rocky Marsiano em "Meu Kamba", construído a partir dos discos dos Palop da colecção de Rui Miguel Abreu. 

Capicua encabeça a lista do girl power e sacode as estruturas do hip hop em português com "Sereia Louca". Fora da caixa Corona e o seu "Lo Fi Hipster Sheat", hip hop sujo com sotaque nortenho, humor corrosivo e excedente de street cred, além de beats exploratórios. No hip hop, destaque ainda para Kilu ("Frequência"), Bling Projekt & Beware Jack ("A Memória do Futuro") e o regresso de Allen Halloween. Por fim "Bombas Em Bombos" de Stereossauro, marcou a estreia em álbum de um dos produtores portugueses mais activos e ousados. Ainda perto do hip hop mas cada vez mais dentro da soul, NBC merece nota + em 2014 sobretudo pela conquista do público em espectáculos ao vivo.

Na parte da música de dança/electrónica assinala-se a estreia em Portugal da Tink Music, editora que tem sede e anos de história em Amesterdão e agora também uma delegação em Lisboa que se destaca pela edição, em 2014, do ep "Without Your Love" de Daino e pela colaboração de Kaspar com Thunder & Co no certeiro "Do it".Tiago (Miranda) continuou do lado certo da força, não apenas pelos lançamentos na sua editora Interzona 13, incluindo um excitante ep de Black /Nelson Gomes (Gala Drop), mas também pela edição do álbum "Emotional Poverty" na Noisendo. Miguel Torga e o seu “Hexágono Amoroso” também fizeram diferença pela combinação de pulso, intelecto e ironia em formato techno house. 2014 também foi um bom ano para a família One Eyed Jacks dos Photonz pelo lançamento de "Osiris Ressurected" (Photonz) e pela remistura/versão de Violet para "Una Fiesta Diferente" de Matias Aguayo incluída em "The Visitor Covers"com selo da Comeme. Já De Los Miedos/ Sebastião Delerue juntou-se ao grupo de Djs e produtores do mundo inteiro que se interessam pela exotismo retro em geral e pela música turca do passado em particular e editou “Edits vol1” na sua editora Ostra discos, conseguindo com isso merecida projeção internacional.

"Oito" dos Sensible Soccers foi claramente um dos discos que melhor se esquivou aos rótulos para afirmar um território próprio, tal como "How Can We Be Joyful In A World Full of Knowledge" de Bruno Pernadas. Destaque inevitável para a nova encarnação de Gala Drop em "II", e nota final para um cdr (“506”) de aspirações cósmicas dos Niagara que induz à autorreflexão e tem consideráveis virtudes pacificadoras (o que é sempre recomendável em tempos difíceis como estes). Não foi nada mau.