segunda-feira, outubro 20, 2014

Reedições:
Underworld

“Dubnobasswith- myheadman”
Universal
5 / 5

Entre os muitos frutos da revolução que partiu da música de dança em finais dos anos 80 conta-se a definitiva sedução de muitos (músicos e melómanos) vindos de escolas mais próximas do rock aos espaços das novas pistas de dança e às electrónicas. Se as primeiras manifestações deste novo entendimento ganharam forma em diálogos como os que foram promovidos por nomes como os Stone Roses, Happy Mondays ou Primal Scream entre finais dos 80s e inícios dos 90s, com a entrada de uma nova década em cena algumas destas formas entranharam-se e definiram novas maneiras de estar na música electrónica tendo toda uma série de heranças colhidas na cultura rock já assimiladas e transformadas. Nomes como os KLF ou Underworld foram aqui peças centrais na afirmação de um terreno que depois floresceu e gerou as suas descendências. Se os primeiros são hoje uma presença injustamente esquecida – com discografia há muito a merecer um tratamento antológico e a criação de reedições “deluxe” que tardam a surgir – dos segundos chega-nos o álbum que os inscreveu no mapa dos acontecimentos maiores dos anos 90 e que antecedeu o clássico Born Slippy que então correu mundo. Com uma outra formação (e uma outra orientação musical) os Underworld já tinham gravado dois discos antes de encontrarem o caminho que aqui os conduziu. O eureka que os impediu de serem um entre tantos nomes inconsequentes entre os demais da sua geração surgiu quando entra em cena o muito jovem Darren Emerson, que se juntou ao núcleo central constituído por Karl Hyde e Rick Smith e o levou a descobrir os caminhos de novas visões que então ganhavam forma nas noites de Londres, então entregues aos deleites da cultura rave. Uma primeira sucessão de singles definiu aos poucos uma clara reorientação do caminho pelo qual nascia a música dos Underworld. Mas coube a Dubnobasswithmyheadman a definição de um livro de estilo para uma nova forma de entender não apenas uma relação entre a forma da canção e a pista de dança, mas também um modo diferente de pensar a voz neste quadro de acontecimentos. Conciliando heranças escutadas desde os tempos do disco e assimilações profundas de ensinamentos do dub, juntando um sentido de arquitetura rítmica intenso e envolvente, os temas do álbum lançado há precisamente 20 anos traduziam ao mesmo tempo um sentido de novidade e de convite a participar na festa, mas com uma capacidade rara de gerar familiaridade, cativando com facilidade não apenas os já arrebatados pelas noites longas das raves de então, mas os rockers que ali sentiram afinidades que criações anteriores via house, acid house ou techno não haviam sugerido. A edição DeLuxe que assinala o 20º aniversário deste disco que fez história junta um segundo CD com temas extra, entre os quais os longos (e magníficos) Rex – onde se nota uma certa relação com o tipo de devaneio repetitivo em cruzamento de escolas techno com um serto sentido pop que então tinha nos Fluke uma referência - e Spikee, singles que acabaram fora do álbum mas que, com Mmm... Skyscraper I Love You deram os primeiros sinais do que seria esta nova era para os Underworld. Já em Eclispe e Dirty, também neste CD2, encontramos os elos “perdidos” com o techno e o acid house que, com o tempo, os Undeworld integrariam, já digeridos, no âmago da sua música. Vinte anos depois, e com notas assinadas por Jon Savage, serve-se um álbum que fez diplomacia entre os mundos da música de dança e do rock. Mais um muro caia por terra de vez.