“Playland”
New Voodoo Records
3 / 5
Os caminhos de Morrissey e Johnny Marr não podiam ser mais diferentes desde o dia em que resolveram que o (brilhante) Strangeways Here We Come (1987) seria o derradeiro álbum dos The Smiths. Enquanto Morrissey encetou logo em 1988 uma carreira a solo com o sólido Viva Hate, desde então tendo lançado uma vasta discografia em nome próprio – umas vezes com títulos mais inspirados, outras nem por isso – Johny Marr entrou num percurso mais fragmentado que o faz passar por bandas como os The The, Electronic (onde registou a melhor etapa da sua obra pós-Smiths), Modest Mouse, The Cribs ou Johnny Marr and the Healers. Porém só em 2013 encarou a possibilidade de ver o seu nome e nada mais que o seu nome na capa dos seus discos. Apresentou-se com o morno The Messenger. E agora, um ano depois, nota-se que é com claro entusiasmo que junta um novo capítulo a uma discografia que tem pernas para andar. Longe das heranças que chamara à música dos The Smiths – que de resto em nada se compara a nenhuma etapa da sua obra posterior à dissolução da parceria criativa que em tempos partilhou com Morrissey – a nova música que Johnny Marr grava e assina por si mesmo traduz ligações bem evidentes para com escolas que o formaram entre finais de setentas e inícios dos oitentas. As canções do novo Playland podem ostentar muitas vezes a carga elétrica das guitarras que as dominam. Mas há uma alma pop a controlar o rumo dos acontecimentos, a presença de teclas que lembram sonoridades do pós-punk sendo mesmo uma das marcas de luz que brota destas canções. Estamos aqui num terreno que lembra vivências feitas entre memórias de uns Wire, Magazine, Buzzcocks ou The Sound. Memórias de uma música que aceitou a força do punk mas procurou, depois das raivas libertas, a construção de uma nova pop, intensa no som mas mais ligeira na carga das atitudes. Com um alinhamento algo irregular, Playland revela ainda como Johnny Marr parece ter encontrado o patamar instrumental certo para a sua voz. É um disco mais feito de interesses pela sonoridade que um conjunto de ideias para uma voz lançar. Pop, na essência, portanto. E porque não?