quinta-feira, outubro 30, 2014

Novas edições:
Au Revoir Simone

“Spectrums”
Moshi Moshi Records
4 / 5

A caução que receberam de David Lynch há uns bons sete anos fez das Au Revoir Simone um inesperado foco de atenções em 2007. Convenhamos que levavam na bagagem as canções do belíssimo The Bird of Music (um dos mais belos álbuns indie da segunda metade dos noughties), pelo que mais que um favor ao trio, o entusiasmo (mediatizado) de David Lynch alertou-nos para um nome e um disco a ter em atenção. E assim foi. Com estatuto eleito e defendido, as Au Revoir Simone regressaram depois aos discos sem o mesmo impacte (nem a concentração de belas canções, surpresas e entusiasmos) que havia feito do disco de 2007 um caso sério no mapa pop de então. A esse disco seguiram-se Still Night Still Light (2009) e Move In Spectrums (2013), onde deram sinais de evolução na continuidade. Ao mesmo tempo foi entrando em cena uma outra ideia que, pelos vistos, acabou agora por se fazer rotina: a edição de álbuns de remisturas. E depois de terem não só partilhado mas até mesmo colocado nas mãos de terceiros as canções dos seus discos de 2007 e 2009, eis que agora repetem a operação com os temas do álbum do ano passado. E não é que Spectrums, o disco que resulta deste alargar de pontos de vista sobre uma mesma matéria prima – ou seja: as canções – as valoriza e transporta a patamares mais entusiasmantes? Desde cedo ficara claro que, apesar de algum gosto classicista, havia nas entrelinhas da música das Au Revoir Simone um desejo de diálogos ainda mais evidentes com as electrónicas e, até mesmo, com estruturas rítmicas mais próximas dos espaços da música de dança que do terreno indie pop onde originalmente emergiam. Face ao que havíamos escutado em Move In Spectrums o que este novo disco nos apresenta é um conjunto vasto e estilisticamente alargado de opções que, tomando as vozes e as “almas” das canções como porto seguro, delas partem a viagens de descoberta e ensaio. Não se afastam muito. Não apagam as verdades primordiais das canções nem afogam a presença do trio no ego do remisturador que age pela transformação. Mas, tal como escutamos nas contribuições de Kiwi, Passarella Death Squad ou dos islandeses Apparat Organ Quartet, as operações propostas valorizam as canções e levam-nos a um lugar de surpresa e encantamento que, afinal, recordam o modo como The Bird of Music em tempos nos chamou para uma bela pop luminosa, pastoral na alma mas atenta à agitação e desafios da vida urbana do nosso tempo.