Voltei a conversar com Mike Hadreas a propósito de um disco do seu projeto Perfume Genius, desta vez com Too Bright na berlinda. Esta entrevista serviu de base a um artigo publicado no DN.
O seu trabalho com as imagens (fotografias e vídeo) tem sido importante. Usar os saltos altos tem um valor simbólico. E político. É uma maneira de contribuir para uma mudança da sociedade relativamente a questões de sexualidade e identidade de género?
Certamente. São pequenas coisas. São pequenas ações que definem ideias. Gosto de fazer isso. Sinto um certo dever em fazer coisas destas.
Sente já mudanças na América dos nossos dias?
Eu vivo em Seattle, que é uma cidade muito liberal. Mas há lugares na América que não são nada liberais... E há também lugares fora da América igualmente assim. Não faço música apenas para a minha cidade... As coisas aqui estão melhores, acho. Agradeço isso. Mas vou continuar a lutar para que se chegue onde deveríamos estar. Não fico satisfeito apenas com prémios de consolação. Porque todos os direitos que estamos a conquistar eram direitos que já deveríamos ter.
Recebe mensagens de jovens dessas áreas mais conservadoras? As pessoas falam consigo?
Às vezes são situações tremendas. Mas essa é a parte mais importante de tudo isto. Parece piroso dizê-lo, mas os momentos mais importantes da minha carreira são quando essas coisas acontecem. Quando jovens gays vêm ter comigo depois dos concertos. Porque sentem que disse algo que nem eles conseguiram ainda dizer a si mesmos. Ou porque lhes dei força. Dizem-me coisas que não puderam ainda dizer aos amigos ou família. E eu lembro-me de ter sido assim. Lembro-me de ouvir música à procura de coisas que me dessem força ou fizessem sentir que não estava sozinho. Porque não tinha outra forma de o fazer... É espantoso quando isso acontecia...
E as reações fora da América são muito diferentes?
E as reações fora da América são muito diferentes?
Musicalmente, pensando na forma como soa, o último álbum funcionou melhor fora da América. Especialmente na Europa... Nunca tocámos em festivais nos EUA. Mas fizemos muitos na Europa. Os americanos muitas vezes ouvem música de forma diferente e vão a concertos de forma diferente. Muitas vezes vão para beber copos... Não é errado fazer isso, note-se bem! Mas há outros países em que sinto que as pessoas estão mais sérias e investem mais no facto de estar num concerto. E são mais entusiasmadas que os americanos... Talvez com este disco seja diferente e consigam entender melhor, porque é mais barulhento [risos]...
Mais barulhento, mas mais cheio de pequenos detalhes e mais próximo do corpo. A canção Fools, por exemplo, traduz um empenho físico mais intenso...
Mais barulhento, mas mais cheio de pequenos detalhes e mais próximo do corpo. A canção Fools, por exemplo, traduz um empenho físico mais intenso...
Nessa canção eu queria perder-me naquele momento. É uma coisa física, sim. Quando vejo pessoas a cantar em concertos estou sempre à espera daquele momento em que parece que se esquecem de tudo o que está à sua volta e mergulham completamente no que estão a fazer. E tentei evocar isso na parte do meio dessa canção. Desligámos as luzes do estúdio, acendemos velas por todo o lado... Tudo estava em silêncio e eu cantei e cantei, umas dez vezes... Houve ali algo quase místico... Mesmo que seja teatro...