domingo, outubro 26, 2014

À espera do novo single de Bowie


Um ano depois de ter regressado de um longo silêncio de uma década, o músico revelou o tema novo que gravou com a orquestra de Maria Schneider e que surgirá numa nova antologia em novembro. Este texto foi originalmente publicado no DN a 14 de outubro com o título 'David Bowie revela single novo gravado com uma orquestra de jazz.

Após dez anos de ausência David Bowie quebrou o silêncio em janeiro de 2013 apresentando, através das redes sociais, um novo single – Where Are We Now? – que mais não era senão o aperitivo para um álbum de originais que então anunciou para edição dois meses depois. Foi um disco feito em segredo, gravado durante dois anos em Nova Iorque sem que ninguém (nem mesmo a editora do músico) desse por isso. Editado em março de 2013 The Next Day assinalou um regresso sob um clima de aclamação como o músico não conhecia desde meados dos anos 80. No ar ficava a dúvida se haveria ou não um reencontro com os palcos (que ainda não se concretizou) e, depois de algumas sugestões, a quase certeza de que haveria nova música a caminho... Assim aconteceu, com o anuncio do lançamento de um single inédito, apontado ao alinhamento de uma antologia a editar em novembro. Com o título Sue (or in a Season of Crime), é um tema longo e terá também edição em suporte de vinil.

Em The Next Day Bowie apresentara o seu álbum mais rock’n’roll (a solo) desde os dias de Scary Monsters (1980), pelo alinhamento do disco passando memórias de várias épocas, dos ecos de Berlim a que aludia Where Are We Now? ao registo clássico de You Feel So Lonely I Could Die, que nos transportava aos tempos de Ziggy Stardust. Sue (or in a Season of Crime) segue, todavia, caminhos completamente diferentes. Gravado no verão deste ano com a Orquestra de Maria Schneider e sob produção de Tony Visconti, a canção revela uma abordagem livre de Bowie a solos jazzísticos, colocando-o no terreno das big bands e revelando ainda sinais de reencontro com discursos rítmicos mais intensos como os que explorou em meados dos anos 90 nos tempos dos álbuns 1.Outside (1995) ou Earthling (1997). Com mais de sete minutos de duração o tema traduz uma grandiosidade épica que sugere uma busca de linhas para lá das fronteiras habituais da canção pop/rock um pouco como o fez, por exemplo, Scott Walker na sua obra posterior aos anos 80.

Esta nova canção não será a única novidade no alinhamento de Nothing Has Changed, antologia que tem lançamento previsto para meados de novembro e que representa a primeira vez que um ‘best of’ de Bowie junta a sua produção posterior a Space Oddity (o seu primeiro instante de visibilidade, em 1969) a temas dos cinco anos anteriores, nos quais a sua presença passara longe das atenções. Em Nothing Has Changed, que terá edição como triplo álbum no formato de CD surgirá também o inédito Let Me Sleep Beside You, um tema das sessões do álbum Toy, gravado no ano 2000 mas que acabou por não ser nunca editado. A antologia assegurará ainda a estreia em CD de Your Turn To Drive (que até aqui só conheceu lançamento em formato digital) e uma regravação de 2001 do outtake de 1971 Shadow Man. A edição física do novo single – que surgirá apenas a 28 de novembro num vinil de dez polegadas – apresentará ainda uma outra canção nova, Tis A Pity She’s A Whore.

A agitação editorial em torno de David Bowie nestes dois últimos anos contrasta completamente com o que foi o quase total silêncio que se abateu sobre o músico após a intervenção cirúrgica a que foi submetido de urgência em 2003, na reta final da A Reality Tour. Depois da convalescença Bowie manteve um calendário regular de reedições e assinou apenas escassas colaborações em discos (com nomes como os Kashmir, TV On The Radio ou Scarlett Johannon). Passou pontualmente pelo palco em atuações dos Arcade Fire e David Gilmour (em ambos os casos as respetivas prestações acabando em discos ao vivo) e, também em doses moderadas, pelo cinema e televisão. O regresso em 2013 teve assim o sabor de fim de uma longa ausência, impedindo esta nova canção que o silêncio invada, para já, o seu programa de atividades.