O maestro Michael Tilson Thomas apresenta, com a San Francisco Symphony, a primeira gravação da totalidade da música de ‘West Side Story’ feita num palco fora de uma produção teatral. Tal como o fizera Bernstein por ocasião da sua estreia em 1957, procurou nas vozes de atores cantores parte da alma que faz desta obra um caso ímpar de relacionamento entre várias referências. Este texto é parte de um artigo publicado na edição de 30 de agosto do suplemento Q. do DN com o título Um novo episódio na vida de ‘West Side Story’.
A estreia em palco faz de algumas das canções de West Side Story clássicos quase instantâneos. Maria, America e Somewhere, por exemplo, ganham quase o estatuto de standards, surgindo desde então em gravações por uma multidão de vozes e pelas mais diversas abordagens, algumas mesmo algo inesperadas (como a citação a America que surge nos primeiros compassos de Don’t Tread on Me dos Metallica ou a leitura eletrónica que os Pet Shop Boys fizeram de Somewhere, que editaram inclusivamente como single em 1997). O álbum com a gravação do elenco da peça original chegaria ao fim dos anos 50 como o 48.º mais vendido de toda a década nos EUA. Editado quatro anos depois, o disco com a banda sonora da adaptação ao cinema iria ainda mais longe, tendo sido o 25.º com maiores vendas dos anos 60 também nos EUA.
Esta adaptação ao cinema, da qual resultou um dos maiores filmes musicais de todos os tempos, contou uma vez mais com o trabalho exigente do coreógrafo Jerome Robbins, que inclusivamente coassinou a realização com Robert Wise. Talvez mais ainda que o impacte da produção original nos palcos, a adaptação ao cinema estreada em 1961 (e que a nós chegou com o título Amor sem Barreiras) inscreveu definitivamente West Side Story entre os momentos maiores da história da música do século XX. A suite sinfónica criada a partir das danças que escutamos numa das primeiras sequências de West Side Story transportou também esta música para o cânone orquestral, com vários episódios de sucesso (como, por exemplo, em Fiesta!, o álbum de referência na discografia de Gustavo Dudamel com a Orquestra Sinfónica Juvenil Simon Bolívar).
As várias edições discográficas existentes da totalidade da obra traduziram até aqui ora a expressão direta do que Robert Wise levou ao grande ecrã ou uma sucessão de produções em palco, a mais recente datando de 2009, numa versão apresentada na Broadway e que venceu o Grammy para Melhor Musical.
Ao trabalhar com atores cantores Tilson Thomas recuperou nesta sua abordagem o encantamento por uma abordagem vocal única que o próprio Bernstein sentiu quando preparara em 1957 a estreia de West Side Story. Depois de uma vida em palco, a versão de concerto de West Side Story, dirigida por Tilson Thomas, é um marco na história desta obra. À San Francisco Symphony, juntamente com as vozes de Cheyenne Jackson (que passou pelas séries Glee e 30 Rock), Alexandra Silber (com experiência nos palcos do West End londrino) ou Jessica Vosk (que cantou em Kristina, um dos musicais dos ex-Abba Benny Andersson e Björn Ulvaeus), juntam-se a Michael Tilson Thomas naquele que é o mais importante episódio na vida de West Side Story desde a experiência em estúdio que o próprio Bernstein gravou para a Deutsche Grammophon em 1984.