Frank Miller + Robert Rodriguez + Mickey Rourke |
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Há toda uma imprensa cinematográfica que nos EUA (e não só...) vive dependente de um imaginário “económico” que se esgota nos milhões ganhos ou perdidos pelos filmes... Viu-se o ano passado, quando a magnífica realização de Gore Verbinski, O Mascarilha, com Johnny Depp, se tornou num dos maiores desastres financeiros dos estúdios Disney. Dir-se-ia que a maior parte dos jornalistas eram chorosos herdeiros do criador do rato Mickey, de tal modo tratavam o falhanço do filme como uma incómoda discrepância entre o investimento e os ganhos... Na prática, ignoravam um dado fulcral: ao convocar sofisticadas heranças de Hollywood, O Mascarilha passou ao lado dos hábitos de milhões de espectadores jovens, (des)educados para ver nos filmes de aventuras pouco mais que uma colagem de “efeitos especiais”...
O caso de Sin City: Mulher Fatal, de Frank Miller/Robert Rodriguez, é de novo sintomático. Assim, a sua má performance nas bilheteiras americanas tem estado a ser “explicada” por factores que vão desde o tempo de espera (nove anos) em relação ao primeiro Sin City até às limitações do marketing... Tudo isso faz sentido, como é óbvio. Mas importa não esquecer que, mais do que nunca, o universo de Miller integra componentes — da utilização das vozes off até às cruéis ambivalências da misoginia das suas personagens — enraizadas num gosto cinéfilo pela herança do filme “noir” e pelo carisma de actores como Humphrey Bogart ou Ava Gardner (será preciso sublinhar que a personagem de Eva Green se chama Ava?). Infelizmente, o filme perde muito da sua energia na colagem algo simplista de várias histórias, mas é um facto que, mesmo com resultados medianos, Sin City: Mulher Fatal é um sintoma do que poderia ser uma outra concepção dos actuais parâmetros do cinema de aventuras.