sexta-feira, setembro 26, 2014

Reedições:
David Bowie

“Sound + Vision”
PLG UK Catalog
4 / 5

Se James Bond nos disse em tempos que só se vive duas vezes, David Bowie mostra-nos que a sua antologia Sound + Vision já soma, pelo menos para já, três vidas. Originalmente lançada em 1989 no formato de três discos (mais um CD-Rom extra, coisa moderna na altura), conheceu segunda versão em 2003 numa caixa maior, com quatro discos e alinhamento a ter em conta alguns episódios (não muitos, de facto) do tempo que entretanto passara. Agora, e num compasso de espera para o lançamento da muito aguardada compilação (tripla) Nothing Has Changed – que inclui um tema novo e duas faixas das sessões do álbum (nunca editado) Toy – eis que entra em cena uma terceira versão da caixa Sound + Vision. Na verdade o que aqui há de novo é apenas uma nova forma de arrumar o mesmo alinhamento da versão lançada há onze anos, sob um grafismo que recorre à mesma fotografia para a capa mas opta por um formato mais próximo das dimensões habituais do CD. Com memórias mais antigas achadas no alinhamento de Space Oddity (1969) – e vale a pena lembrar que a antologia que vem a caminho será a primeira a cruzar esse período posterior a 1969 com alguns momentos da discografia anterior, que remonta a primeiros singles lançados em 1964). Mas mesmo deixando cinco anos de discos de fora, e ignorando o que sucedeu depois de Buddha of Suburbia (1994), apesar de incluir um lado B da fase Earthling (mas com uma versão ao vivo de um tema de 1993), Sound + Vision acaba por ser um dos mais interessantes olhares de conjunto sobre a obra de Bowie, juntando mesmo alguns temas que antes nunca tinham conhecido expressão em CD – nomeadamente duas faixas do EP Baal de 1982, dois lados B até então apenas representados em vinil, uma remistura inédita de Nite Flights (um original dos Walker Brothers) e versões menos habituais em compilações como a gravação do single de 1970 (com Marc Bolan na guitarra) de The Prettiest Star ou Helden (a versão em alemão de Heroes). Musicalmente não acrescenta nada à caixa de 2003. Historicamente fica aquém da visão mais alargada que Nothing Has Changed vai propor. Tem presença acima do que seria desejável (seis temas) da etapa Tin Machine. Mas não deixa de ser uma bela antologia de Bowie.