Um dos aspectos mais curiosos do período de transferências no futebol é o facto de, quase sempre, a circulação de muitos milhões de euros suscitar nos jornais e televisões um misto de espanto e adoração [os exemplos aqui reproduzidos são apenas dois entre muitos possíveis, provenientes dos mais diversos órgãos de informação].
Por um lado, temos uma imprensa que, em alguns casos, é capaz de acumular insinuações e difamações, ou mesmo adoptar atitudes persecutórias, face a quem, com o seu trabalho, possa angariar algumas "suspeitas" centenas de euros; por outro lado, os milhões que, por assim dizer, baptizam os jogadores são tratados como uma vistosa performance, um verdadeiro artifício espectacular, por certo de origem divina, que dispensa qualquer reflexão sobre as dinâmicas financeiras, sociais e simbólicas do futebol.
Por um lado, temos uma imprensa que, em alguns casos, é capaz de acumular insinuações e difamações, ou mesmo adoptar atitudes persecutórias, face a quem, com o seu trabalho, possa angariar algumas "suspeitas" centenas de euros; por outro lado, os milhões que, por assim dizer, baptizam os jogadores são tratados como uma vistosa performance, um verdadeiro artifício espectacular, por certo de origem divina, que dispensa qualquer reflexão sobre as dinâmicas financeiras, sociais e simbólicas do futebol.
E não se trata, entenda-se, de sugerir que o mundo estaria necessariamente melhor se o jogador A, B ou C auferisse menos uns milhões... Não há vasos comunicantes que tornem a existência humana uma mera dicotomia de "deve" e "haver" — nas finanças como nas pulsões libidinais. Trata-se, isso sim, de discutir todo um imaginário jornalístico que alimenta um discurso de grande violência moralista face a todas as formas de circulação do dinheiro... excepto no futebol.