terça-feira, setembro 02, 2014

Novas edições:
Blonde Redhead

“Barragán”
Asawa Kuru
4 / 5

O sabor do desafio e da descoberta impede que o tédio arrume a evolução de carreiras e discografias na estafada (e atulhada) prateleira do “já ouvimos isto”. Nascidos em Nova Iorque nos novenas, os Blonde Redhead não são de todo praticantes desta ideia. E ao longo de uma obra que já vai para além dos 20 anos de discos, apesar do álbum de estreia datar apenas de 1995, têm ensaiado caminhos, sonoridades mas também formas que deixam as fundações shoegazer da sua identidade apenas como uma entre as muitas possibilidades às quais a sua música se dedicou. É verdade que a sua música ganhou particular sabor com a arrumação mais pop que começou a manifestar-se pontualmente em Melody of Certain Damaged Demons (2000), ganhando forma maior em Misery is A Buttefly (2004) e, sobretudo, no brilhante 23 (2007), os seus dois primeiros discos para a 4AD. Em 2010 Penny Sparkle (ainda para a 4AD) experimentou um mais profundo labor nas electrónicas, num alinhamento todavia menos luminoso e, convenhamos, sem o cardápio de canções de 23. Quatro anos depois regressam em Barragán - nome de célebre arquiteto mexicano, Luís Barragán – um álbum que volta a evidenciar sinais de uma saudável inquietude criativa. É um disco que exige atenção e regressos ao seu alinhamento, feito de um corpo de canções com formas nem sempre nítidas e arrumadas numa ordem melódica que não procura agarrar-se às orelhas de quem escuta. Há todavia, e como aconteceu já em várias etapas da vida do grupo, uma atenção particular pela criação de cenografias e texturas, que servem assim de terreno onde a arquitetura da escrita lança edifícios de formas delicadas e frágeis que pedem que se descubram aos poucos. Apesar da diversidade instrumental, as guitarras, baixo e voz são os protagonistas em composições que, por vezes, quase sugerem curiosidade pela complexidade formal característica dos espaços do progressivo. De resto, com evidente tempero krautrock, o longo Mind To Be Head é mesmo o coração de um alinhamento que dá conta da vontade do grupo nova iorquino em não voltar a pisar chão pelo qual antes já andou.