segunda-feira, setembro 15, 2014

Em conversa: Daniel Ribeiro


Depois das curtas Café com Leite e Eu Não Quero Voltar Sozinho (premiado no Queer Lisboa 16 como Melhor Curta Metragem), o realizador brasileiro regressa com Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, a sua primeira longa-metragem. O filme recupera as personagens e o essencial da narrativa de Eu Não Quero Voltar Sozinho, mas aprofunda uma série de elementos. Em entrevista, o realizador do filme de abertura do Queer Lisboa 18, que venceu o Teddy Award e o Prémio Fipresci na Berlinale este ano, conta-nos como curta e longa fazem parte de uma mesma história comum.

A ideia de fazer uma longa-metragem à volta das personagens e narrativa de Eu Não Quero Voltar Sozinho surgiu depois do impacte que a curta teve ou era já uma ideia antiga?
A ideia veio desde o começo e os dois filmes nasceram juntos. Quando pensei no personagem do garoto cego que descobria que era gay eu queria que essa fosse a minha primeira longa. Só que resolvi fazer a curta antes, como uma espécie de piloto. Era um personagem complexo, teria de trabalhar com um adolescente interpretando um cego e que topasse fazer um personagem gay... Então eu achava que ia ser difícil encontrar esse ator, por isso decidi experimentar tudo antes numa curta, ver o que funciona e não funciona e depois ir para a longa.

O filme tem um protagonista cego. E é raro vermos o cinema a abordar a cegueira, desta forma. Era fundamental para a narrativa ter um cego?
Cinematograficamente era essencial e podia jogar um pouco com o que vê e não vê para falar do que é, quando estamos apaixonados, o medir dos detalhes, das dicas que as outras pessoas dão... A personagem funcionava nesse caminho. Mas era importante também para falar da sexualidade. Esse personagem cego nasce para mim quando eu me questiono sobre como um garoto cego, que nunca viu um homem ou uma mulher, sabe que pode ser gay. Esse elemento é para mim essencial. A nossa sexualidade vem de dentro de nós, não tem só a ver com o que vemos.

A curta foi parar à Internet por vontade sua? O que aconteceu?
Foi meio um acidente. E foi um acidente muito bom. O filme estava no Festival do Rio e participava numa competição que era para ser votada na Internet e eles colocaram o filme online. Durante uma semana no site ficou lá. O filme já tinha sido muito falado no Brasil porque tinha entrado noutros festivais e ganho prémios. E quando foi parar à Internet muita gente viu o filme, descarregou-o e meteu-o no YouTube. Tiravam do site da competição e metiam no YouTube. Eles colocavam e a gente apagava. Várias vezes... E chegou uma hora em que achamos que não dava mais para ficar a perder tempo a apagar. Então decidimos colocar nós mesmos e com qualidade boa. E aí foi o sucesso que foi. Acho que tudo o que aconteceu depois, até a força que a longa teve, com tanta gente que viu o filme, veio por causa disso. Hoje agradecemos às pessoas que fizeram isso.

Podem ler aqui a versão completa desta entrevista.

O filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho passa - integrado na programação do Queer Lisboa 18 - na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge no dia 19 pelas 22.00 (na sessão de abertura do festival) e repete, na mesma sala, dia 20, pelas 15.00 horas.