sexta-feira, agosto 01, 2014

Novas edições:
Van Dyke Parks

“Super Chief: Music For The Silver Screen”
Bella Union
3 / 5

Muitos podem ter já ouvido contar a história das míticas sessões de trabalho com Brian Wilson, que acabaram sem que Smile tivesse visto (então) a luz do dia. O letrista convidado chamava-se Van Dyke Parks e, acima de tudo, era um músico com estudos feitos (e um interesse inicial sobre a cultura mexicana) e que com o tempo não só assinaria uma relativamente curta (mas muito nutritiva) obra em disco em nome próprio – iniciada com o belíssimo Song Cycle em 1968 - como surgira em trabalhos de colaboração com nomes que vão dos Byrds, Tim Buckley ou Randy Numan, a casos mais recentes como os de Joanna Newsom, os Grizzly Bear ou Rufus Wainwright. Após uma ausência de quase dez anos, em 2013 Van Dyke Parks regressou aos discos com Song Cycled (a capa a sublinhar a leitura “ciclista” do título), álbum que juntava algumas composições recentes com regravações de outras de outros tempos, ao mesmo tempo que apresentava uma antologia de instrumentais inéditos como lançamento exclusivamente em vinil (para a edição desse ano do Record Store Day). Agora, um ano depois, surge em edição comercial esse mesmo álbum que, com o título Super Chief: Music For The Silver Screen, entra assim como um título a ter em conta naquele universo de criações de música para filmes inexistentes (ou, pelo menos, não rodados quando foi originalmente composta), no qual encontrámos em tempos álbuns como Music For Films de Brian Eno, Original Soundtrack – Volume 1 dos Passengers (projeto paralelo dos U2 nos anos 90) ou a série Cinematique, de Paul Haig (que nos anos 90 gerou três discos assinados pelo antigo elemento dos Joseph K). 

Neste álbum que agora ganha vida além da edição original em vinil de 2013, Van Dyke Parks junta uma série de composições que tinha por editar, muitas delas criadas para acompanhar imagens, mas que acabaram por ficar de fora, por vezes fruto de decisões nas mesas de montagem. Com arranjos orquestrais que as tornam parte de um todo mais uno, estas composições são agora arrumadas no sentido de sugerir uma narrativa – como se de uma banda sonora de um filme se tratasse. Estamos assim em viagem a bordo do histórico Super Chief (comboio que em tempos era conhecido como o protagonista da linha das “estrelas”, quando levava figuras de primeiro plano desde Chicago até Los Angeles). As faixas apresentam um percurso que sugere não apenas o dinamismo do movimento de algo em viagem às cores de uma paisagem que de bebe com surpresa e calor. Esta é uma viagem de descoberta feita em clima pacífico, a história de imagens que esta música possa despertar sugerindo o evoluir de paisagens entre solarengos dias de verão (com sobejas incursões pela folk). Cordas e sopros são presença frequente, ecos de ideias com escola na música para cinema dos anos 60 cruzam a viagem, mas mesmo projetada num passado (que corresponde ao pós-guerra), não há aqui uma componente de nostalgia a vincar marcas de época nem um resvalar de soluções para o muzak. Podia ser música de um filme atual que hoje retratasse uma história com pouco mais de meio século de vida. Não é uma obra de referência na discografia de Van Dyke Parks, mas revela música que faz boa companhia. Agora cada um faça o seu filme...