É raro ver o álbum de estreia dos Portishead ser referido sem que se fale de Bristol, o lugar que o viu nascer. Portishead é, de resto, o nome de uma pequena povoação costeira – perto da foz do canal de Bristol – onde Geoff Barrow vivera na adolescência. “Com o seu passeio panorâmico à beira-mar, em frente à lama cinzenta e água opaca e poluída do canal, é um lugar estranho” (3), diz Phil Johnson, que chama como termo de comparação a memória de Eraserhead, de David Lynch.
Bristol é uma cidade costeira com uma história pop que passava pela memória de grupos que tinham já sabido cruzar fronteiras (como o Pop Group ou os Rip Rig + Panic) e também pela solidez local de uma cultura reggae que se deve a um relacionamento com a Jamaica que vem de outros séculos. Deste caldeirão emergiriam primeiro os coletivos Smith & Mighty e Wild Bunch, logo depois os Massive Attack e, mais adiante, Tricky, os Portishead ou Carlton. A ideia de uma eventual “cena de Bristol”, de que muito se falou nos anos 90, tem defensores e detratores. Phil Johnson explica no seu livro que “o catálogo de clubes, de lojas de roupa e de discos e bares” que encontrara em muitos guias de Bristol que surgiram na imprensa em meados dos anos 90 “tendia a não ser muito diferente do que se via em guias semelhantes para cidades como Nottingham ou Sheffield”. O livro nota contudo a realidade da presença de música africana e caribenha no código genético de uma cidade na qual “muitos dos monumentos e nomes de ruas lembram o tráfico de escravos”. Referências que, sublinha, não sugerem necessariamente que escravatura e música em Bristol tenham uma ligação inevitável, mas as ressonâncias históricas de uma coexistência de povos de várias etnias terá definido características distintivas não apenas na história da cidade – e ficaram célebres os motins de 1980 – como na sua produção artística.
O álbum de estreia dos Massive Attack, Blue Lines (1991), pode ser visto como uma peça fulcral no lançamento de algumas das grandes linhas e descendências que emergiram nos anos 90. É, de resto, o momento que nos apresenta discograficamente não apenas Tricky como Geoff Barrow (que trabalhou no estúdio durante as gravações, ainda como aprendiz). E também o instante em que a expressão “trip hop” (4) entrou no vocabulário da cultura pop.
Bristol é uma cidade costeira com uma história pop que passava pela memória de grupos que tinham já sabido cruzar fronteiras (como o Pop Group ou os Rip Rig + Panic) e também pela solidez local de uma cultura reggae que se deve a um relacionamento com a Jamaica que vem de outros séculos. Deste caldeirão emergiriam primeiro os coletivos Smith & Mighty e Wild Bunch, logo depois os Massive Attack e, mais adiante, Tricky, os Portishead ou Carlton. A ideia de uma eventual “cena de Bristol”, de que muito se falou nos anos 90, tem defensores e detratores. Phil Johnson explica no seu livro que “o catálogo de clubes, de lojas de roupa e de discos e bares” que encontrara em muitos guias de Bristol que surgiram na imprensa em meados dos anos 90 “tendia a não ser muito diferente do que se via em guias semelhantes para cidades como Nottingham ou Sheffield”. O livro nota contudo a realidade da presença de música africana e caribenha no código genético de uma cidade na qual “muitos dos monumentos e nomes de ruas lembram o tráfico de escravos”. Referências que, sublinha, não sugerem necessariamente que escravatura e música em Bristol tenham uma ligação inevitável, mas as ressonâncias históricas de uma coexistência de povos de várias etnias terá definido características distintivas não apenas na história da cidade – e ficaram célebres os motins de 1980 – como na sua produção artística.
O álbum de estreia dos Massive Attack, Blue Lines (1991), pode ser visto como uma peça fulcral no lançamento de algumas das grandes linhas e descendências que emergiram nos anos 90. É, de resto, o momento que nos apresenta discograficamente não apenas Tricky como Geoff Barrow (que trabalhou no estúdio durante as gravações, ainda como aprendiz). E também o instante em que a expressão “trip hop” (4) entrou no vocabulário da cultura pop.
Geoff Barrow (n. 1971) tinha visto os estudos serem dificultados pela sua dislexia. E o facto de ser daltónico impediu-o de seguir uma desejada carreira como designer gráfico (5). Geoff gostava de música. Tentou bater à porta de vários estúdios em Bristol, obtendo resposta de um, que o aceitou no quadro de um programa de estágios. Foi ali que pouco tempo depois deu por si a trabalhar com os Massive Attack, que então gravavam Blue Lines. De certa forma os pontos de partida dos quais emergiria a música dos Portishead eram ali lançados: tempos lentos, batidas narcotizadas, vozes desencantadas. Geoff, ciente das suas limitações na altura, confessaria mais tarde que “a única coisa em que então era realmente bom era a fazer chá”. Mas a verdade é que estava atento. Muito atento. “Estava interessado em aprender sobre todo o espectro dos sons... E analisava o que fazia uma canção popular resultar, tentando mergulhar mais fundo na psicologia do som.” (6)
(3) in Straight Outta Bristol, de Phil Johnson Coronet, 1997), pág. 151.
(4) Trip hop – Expressão usada pela imprensa nos anos 90 para definir uma derivação eletrónica – nascida no Reino Unido e com evidente presença em Bristol – com características mais próximas da música ambiental de elementos com antecedentes no hip hop, dub, r&B e house.
(5) in Dummy, de R.J. Wheaton (Continuum Books, 2011), pág. 37.
(6) idem, pág. 40.