Que resta do mundo de Hollywood a que Lauren Bacall pertenceu? Ou ainda: como nos relacionamos com as estrelas? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (14 Agosto), com o título 'Elogio da perfeição'.
Na abertura da autobiografia By Myself (1978), Lauren Bacall recorda emoções dos seus 15 anos. Nessa altura, a sua ideia de perfeição podia resumir-se em dois nomes: Bette Davis e Leslie Howard. Por simples desespero, podemos supor que, hoje em dia, muitos jovens de 15 anos, a viver no meio de filmes de super-heróis mais ou menos ruidosos, nem saberão do que ela está a falar... Ao mesmo tempo, reconhecemos, por certo com alguma ironia, que muito antes de encontrar Humphrey Bogart ela já sabia a que mundo podia pertencer.
14-11-2009 |
Com o passar dos anos, Bacall foi tendo um discurso cada vez mais distanciado, por vezes sarcástico, sobre a idade de ouro de Hollywood (por exemplo, quando esteve entre nós, na edição de 1998 do Festival de Tróia). A actriz tinha consciência do misto de intensidade e irrisão inerente a qualquer mitologia. Foi ela, afinal, que, em 2009, ao receber um Oscar honorário, pegou na estatueta dourada e, com uma gargalhada, proclamou: “Finalmente, um homem!”