domingo, julho 27, 2014

Uma estreia na vida de 'West Side Story'

Foto: Art Streiber / San Francisco Symphony
A San Francisco Symphony, sob direção de Michael Tilson Thomas, acaba de editar uma gravação histórica de West Side Story, musical com música de Leonard Bernstein e libreto de Stephen Sondheim (e na origem também uma célebre – e premiada – coreografia de Jerome Robbins). Trata-se do registo da primeira versão de concerto apresentada desta obra que vai a caminho dos 60 anos de vida.

Quando tinha 14 anos o jovem Michael Tilson Thomas recebeu de presente uma gravação de West Side Story... Não era bem o que queria escutar na altura e, na loja de discos, trocou o LP por gravações de obras de Berg. O tempo colocaria a música de Leonard Bernstein a cruzar-se com a sua vida em várias ocasiões, do dia em que pintou um apartamento (precisamente ao som de West Side Story) ao encontro, com orquestra, com a suite que o compositor desenvolveu a partir das danças sinfónicas criadas para este mesmo musical. Agora coube-lhe um episódio marcante na história desta obra (há quem diga a maior) de Bernstein. Desde que estrada em palco em 1957 (e com expressão no cinema em 1961), West Side Story conheceu várias produções em palco. Mas nas salas de concerto a sua presença foi ficando por conta das ‘danças sinfónicas’. Até que, no ano passado, todos os detentores dos direitos da obra concederam ao maestro e à San Francisco Symphony que dirige, a honra de apresentar pela primeira vez a versão de concerto de toda a obra. E é assim que surge este disco.

A história das gravações de West Side Story é também ela essencialmente feita das gravações de algumas das produções levadas a palco, às quais se junta a das vozes que escutámos na versão cinematográfica e uma outra, então entendida como “definitiva” dirigida em estúdio pelo próprio Bernstein, com José Carreras e Kiri Te Kanawa como protagonistas. O West Side Story, que Tilson Thomas agora apresenta na editora da própria San Francisco Symphony, é não apenas um momento histórico na vida desta música, como representa uma interessante procura de uma aproximação às raízes teatrais da obra, o que não deixa de ser curioso sendo que representa, depois da abordagem de Bernstein para a Deutsche Grammophon em 1984, uma leitura assinada por uma orquestra... clássica. As diferenças entre esta nova gravação e a de Bernstein encontram-se por um lado na dimensão da orquestra, com substancialmente mais cordas que o ensemble reunido em estúdio que procurava simular o que seria o volume de músicos possíveis de juntar num fosso de orquestra, distribuindo-se também os sorpros por mais instrumentistas (nas versões em palco há casos de duplicações, ou seja, músicos que têm de fazer mais que uma das partes, por vezes até de mais que um instrumento). As vozes, que Bernstein em 84 procurou no mundo do canto lírico (e de estrelas do catálogo da editora), são aqui entregues a atores-cantores, também eles contudo de estudos feitos e vozes absolutamente notáveis. E assim, mesmo a caminho dos 60 anos de vida, esta adaptação da alma conflituosa do velho romance de Romeu e Julieta às ruas da Nova Iorque de meados dos anos 50 respira ainda o mesmo viço que fez dos Jets e dos Sharks os gangues mais musicalmente ginasticados da história.



Vídeo com imagens de concerto e entrevistas com alguns dos cantores e com o maestro Tilson Thomas.