... E ao oitavo título da série "Planeta dos Macacos", homens e macacos vivem em reinos separados, num mundo pós-apocalíptico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (17 Julho).
O primeiro título da série “Planeta dos Macacos” — entre nós chamado O Homem que Veio do Futuro — surgiu em 1968, um ano mítico, recheado de obras marcantes na história do cinema americano, incluindo 2001: Odisseia no Espaço (Stanley Kubrick), Faces (John Cassavetes) e A Semente do Diabo (Roman Polanski). Se podemos traçar uma linha comum a tais títulos, será, talvez, antes do mais, de natureza humana: todas as relações pareciam assombradas por uma profunda descrença nos próprios valores humanistas.
Escusado será dizer que, na história dos filmes e das sociedades, muita coisa se passou desde essa época até este ano de 2014 em que surge o filme Planeta dos Macacos: a Revolta, de Matt Reeves. Mais do que inventariar semelhanças e diferenças, valerá a pena sublinhar que, agora, através de uma dramaturgia bastante rica de pormenores, homens e macacos surgem como habitantes separados de um mundo que exibe as feridas brutais da sua condição pós-apocalíptica (a cidade de São Francisco, destruída de forma trágica, constitui, por certo, uma das mais espantosas proezas cenográficas que vimos na mais recente produção americana).
À boa maneira dos blockbusters de Verão, o filme desemboca num final “provisório”, obviamente prevendo uma sequela (aliás, já agendada para 2016). Em qualquer caso, há nele um tom de pessimismo que, definitivamente, exclui qualquer hipótese de redenção pela Natureza de que os macacos seriam o derradeiro símbolo. Bem pelo contrário, Planeta dos Macacos: a Revolta encena um mundo em que quase nenhuma personagem, humana ou simiesca, emerge como símbolo de qualquer forma de bondade natural. Dir-se-ia que chegámos a um tempo de pessimismo em que nem mesmo a nostalgia pode garantir o regresso de um herói como Tarzan.

