segunda-feira, julho 14, 2014

Reedições:
The The

“Soul Mining”
Columbia / Sony Music
5 / 5

Uma lista dos melhores álbuns dos anos 80 não fica (a meu ver) completa sem uma referência (pelo menos uma) aos The The. E entre a etapa mais produtiva e criativa da obra que Matt Johnson editou sob este nome (que podemos localizar entre 1982 e 1992) o álbum Soul Mining, que representou a estreia dos The The traduz um episódio de grande inspiração e rara capacidade em conciliar uma série de referencias e caminhos aparentemente dispares mas de cuja capacidade em entrar em diálogo emergira não apenas a obra posterior de Matt Johnson mas todo um novo espaço onde se afirmaria uma nova pop alternativa de vistas largas da qual emergiriam alguns dos melhores discos dos oitentas. Matt Johnson já circulava entre as atenções de quem seguia a música por perto desde que se fizera notar em primeiros anúncios via NME, inicialmente dando os Velvet Underground e Syd Barrett, pouco depois alargando as bitolas a nomes como os Residents e Throbbing Gristle. Matt edita um primeiro álbum em nome próprio em 1981 (que anos mais tarde seria reeditado sob o nome The The), encontra um espaço de trabalho entre a Some Bizzarre (etiqueta da qual emergiriam os Soft Cell) e alarga gradualmente a sua base de ideias. De um entendimento com um mesmo sentido de ecletismo pop nascido dos ecos da revolução punk que entretanto gerara discos como Remain In Light dos Talking Head, Non Stop Erotic Cabaret dos Soft Cell ou Tin Drum dos Japan, onde se cruzavam fronteiras de género e integrava elementos de outras culturas, Matt Johnsson junta em Soul Mining um conjunto de canções que tanto mostram sinais de atenção para com a club culture nova iorquina de então, heranças do funk, um natural interesse (de época) pelas electrónicas e pela grande riqueza dos ritmos africanos, amplificando mais ainda a paleta das cores e formas em jogo pelas contribuições de alguns músicos presentes, entre eles contando-se Zeke Manyika (dos Orange Juice), Jools Holland (dos Squeeze), Thomas Leer ou Jim Thirwell (que algum tempo depois faria carreira como Foetus). A reconstrução de Cold Spell Ahead (single originalmente editado em 1981) que reemergiria como Uncertain Smile é um bom exemplo de como a visão de Matt Johnsson galgou muros e soube cruzar experiências para encontrar o caminho que o levou a Soul Mining e, com este disco fazer, juntamente com Songs To Remember dos Scritti Politti ou The Hurting dos Tears For Fears, um dos grandes episódios made in 1983. 31 anos depois a presente reedição recupera o disco no seu alinhamento original (e remasterizado em Abbey Road sob supervisão do próprio Matt Johnsson), juntando um disco extra com remisturas e Perfect, single originalmente editado em 1983 mas não previsto para o alinhamento do álbum (a sua presença em algumas das primeiras prensagens e versões em CD decorrendo da vontade da editora e não do músico).