quinta-feira, julho 24, 2014

Quando os símios se revelam afinal...
tão iguais aos seres humanos


A coisa agora chama-se reboot... Que é como quem diz, desligar e começar de novo. E convenhamos que, nos dois exemplos mais significativos em que o “reboot” operou sobre velhos franchises, os resultados foram cinematografica e comercialmente bem sucedidos. Um desses exemplos surgiu no universo Star Trek, do qual os dois mais recentes filmes de J.J. Abrams (que correspondem ao reboot) representam alguns dos melhores episódios da vida da saga no grande ecrã. Em 2011 o mesmo aconteceu com O Planeta dos Macacos (espaço que dez anos antes tinha sido visitado por um dos piores títulos da filmografia de Tim Burton). A ideia foi a de encontrar um início possível para a história. Uma narrativa que ligasse o mundo que conhecemos a um outro, dominado por símios inteligentes. Um começo que, sublinhe-se, rompe com algumas das ideias nas quais assentam tanto o livro de 1963 de Pierre Boulle como o filme de Franklin J. Schaffner, já que no primeiro estamos, na verdade (e basta ler o twist final) num mundo distante perto da estrela Betelgeuse e, no segundo, viajámos a um futuro longínquo.

Em Planeta dos Macacos: A Origem, encontrávamos um mundo presente, no qual é de um projeto científico que procura a cura do Alzheimer que surge um vírus que acaba por gerar o caos (e potenciar a conquista da inteligência, inclusivamente da fala, pelos símios). Guardados em laboratórios e jaulas de jardins zoológicos, alguns deles guardam ressentimentos contra a humanidade. As sementes do ódio, afinal, não são apenas coisa humana.

É nesse ponto que o novo filme apanha a narrativa, acrescentando uma mão-cheia de acontecimentos que não fogem a essa mesma maneira tão humana de pensar a relação com os outros. Planeta dos Macacos: A Revolta regressa a São Francisco, dez anos depois. A humanidade foi praticamente dizimada pelo vírus e a cidade californiana é uma pequena comunidade de sobreviventes com imunidade ao vírus. Com vitaminas de cinema de aventuras, o filme (realizado por Matt Reeves) tem como gancho narrativo a tentativa de reativação de uma barragem que está do outro lado da Golden Gate, em território controlado pelos símios. As suspeitas de parte a parte, os preconceitos (sobretudo os de uma antiga cobaia de laboratório) não ajudam o jogo de pesos entre a guerra e a diplomacia. Quem ganha?

Ao contrário das sequelas que se seguiram ao belíssimo filme de 1968, e longe dos caminhos explorados por Tim Burton em 2001, este segundo título da nova série volta a assentar sobre uma preocupação de uma certa verosimilhança científica. A exploração das afinidades de comportamentos entre humanos e símios são, contudo, a alma que corre pelo tutano de um filme que nos deixa a pensar sobre quem somos.