Parlophone
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Não deve ser uma decisão fácil a de ditar o seu próprio final, quando na verdade tudo parecia apontar para cenários de longo futuro. Mas há quem tenha a consciência de que, no quadro de uma banda, e salvo raríssimas exceções, a partir de uma certa altura mais não se faz senão repetir modelos (que se vão tornando progressivamente mais gastos) ou tentar ensaiar atualizações que frequentemente revelam como até velhos mestres acabam aquém dos seus mais jovens seguidores. Em 1983 os Japan decidiram parar quando finalmente tinham o mundo a seus pés, fazendo do magistral Tin Drum (1981) a sua obra-prima e contando com o registo ao vivo Oil on Canvas como acenar de uma despedida sentida, mas que fixou neles (sobretudo na etapa 1980-81) uma memória de referência. Também com o mundo a seus pés, os LCD Soundsystem resolveram colocar um ponto final. E, seguindo o modelo que George Michael aplicara aos Wham! em 1986 (então com um mega-concerto em Wembley - mas não vamos comparar em mais nenhum ponto os LCD Soundsystem aos Wham estejam descansados...), o coletivo que fez de James Murphy um dos paradigmas da música popular do início do século XXI também anunciou a despedida com um concerto. Na verdade, e dado o inflacionamento do preço dos bilhetes (que esgotaram num ápice) para a data final no Madison Square Garden, o grupo juntou a este alguns outros concertos de contagem decrescente para o último adeus (também em Nova Iorque). A 2 de abril a promessa cumpriu-se. E depois de tocado o belíssimo New York I Love But You’re Bringing Me Down, que fechou um longo alinhamento, os LCD Soundystem eram um caso encerrado. Da memória dessa noite resultou o filme Shut Up And Play The Hits, ao qual talvez tenha apenas faltado um nome maior na realização (como Scorsese ou Demme) para o inscrever na galáxia da primeira linha dos grandes filmes sobre a música do nosso tempo. E agora, das memórias desse mesmo concerto surge uma edição áudio, que traduz de fio a pavio o alinhamento do que ali se escutou, disponível apenas para download ou em caixa de vinil quíntuplo. O concerto passou pelos três álbuns de originais do grupo, visitou vários dos seus singles, juntou lados B, uma citação aos Yes (via Heart of The Sunrise), chamou ao palco os Arcade Fire em North American Scum e passou por várias etapas de 45’33”. Agora em The Long Goodbye: LCD Soundsystem Live at Madison Square Garden surge o canto do cisne de uma aventura que, como poucas, marcou a vida musical na aurora deste século, contribuindo, como em tempos o fizeram uns New Order, para estabelecer pontes entre a cultura pop/rock indie e a música de dança. Documento de um momento de exceção, com alinhamento cuidado, convidados e a garantia de não se limitar à reprodução em palco do que conhecemos em disco, este é um daqueles raros exemplos em que um disco ao vivo se transforma num episódio marcante de uma discografia. Haverá ainda surpresas de arquivo ou, definitivamente, a vida em disco dos LCD Soundsystem termina aqui?