Accidental
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Talvez não viva no centro mediático das atenções, mas Herbert é um nome que a história um dia recordará como uma figura marcante do nosso tempo. O seu trabalho tem procurado transcender fronteiras de género, desafiar formas e linguagens e pela sua discografia (editada sob vários nomes e impossível de dissociar também dos muitos em cujos discos já colaborou) encontramos títulos tão aclamados como o histórico Bodily Functions ou tão (ainda) quase desconhecidos, como sucedeu com a sua intrigante abordagem a Mahler no volume que assinou para a série Re-Composed da Deutsche Grammophon. Em 2013 uma extensa caixa antológica arrumava episódios anteriores da sua obra. Já este ano estreou em Londres a sua primeira ópera – The Crackle, baseada na lenda de Fausto. Agora apresenta um breve mergulho entre heranças do seu próprio passado, ao compor um EP de quatro temas que serve de sequela a uma série que originalmente apresentou nos anos 90. Sob o título Part 6, o novo EP é um pequeno monumento de travo retro, recuperando um relacionamento com ecos da house e de uma construção musical assente numa arquitetura ritmicamente bem estruturada, encontrando as composições espaço para a afirmação não apenas de cenografias que se desenham com colagens de acontecimentos sonoros ou até mesmo revisitando o território da canção, como escutamos em One Two Three, que abre o alinhamento. O disco, que passa ainda por heranças do acid house no tema que encerra o lado B, apresenta ainda dois novos exemplos de um trabalho de construção de estruturas através da utilização de elementos vocais que as electrónicas tomam como peças de jogos a que a composição dá bom destino. Desta vez Herbert não procura inventar nada de novo. Apenas dá quatro passos em terreno que já conhece. Mas aqui mostra como sabe do que fala...