segunda-feira, julho 28, 2014

Novas edições:
Hamilton Leithauser

“Black Hours”
Ribbon Music
4 / 5

Os The Walkmen anunciaram que iam entrar naquilo que descreveram como um “hiato extremo” em 2012. E, com a banda em modo de pausa, os músicos começam aos poucos a mostrar primeiros discos em nome próprio. Depois da estreia de Walter Martin e antes que chegue o álbum de Peter Mathew Bauer, cabe ao vocalista Hamilton Leithauser o momento para se apresentar a solo. Sem surpresa, os textos que têm falado deste seu (bem agradável) álbum a solo apontam a enorme dificuldade que naturalmente sentem os vocalistas para seguir caminhos claramente afastados daqueles que tomavam nas bandas às quais davam a voz, se bem que a veia mais rootsy que Jack White tomou depois dos White Stripes ou a nova demanda de John Grant pós The Czars mostrem que é possível experimentar ideias, umas mais próximas, outras mais distantes. Em Black Hours, apesar de sublinhar a versatilidade com que já tinha sabido abordar os diferentes caminhos ensaiados com os The Walkmen, Hamilton Leithauser foca parte significativa das atenções numa busca de fontes de inspiração num passado que aponta em vários instantes os seus azimutes aos anos 50, não pela via da cultura pop/rock, mas pelo terreno da canção de charme que então cabia às vozes dos grandes crooners. Sem mudar o registo vocal, Hamilton procura aí sinais e trilhos, que por exemplo o colocam no caminho de uma música orquestral herdada das lições de um Nelson Riddle ou Gordon Kenkins em 5AM, faixa que abre o álbum, optando por um registo mais discreto em St Mary’s County, balada onde a voz tem por companhia um piano e cordas (sintetizadas). O ponto alto da faceta 50’s do álbum mostra-se contudo no mais luminoso The Silent Orchestra, do qual sobressai um contraste maravilhoso entre as referências retro da composição (e de uma ideia de arranjos para cordas) com a estrutura claramente acompanhada por teclas, com travo solarengo a sorrir no final. O universo indie, onde os Walkmen ganharam notoriedade, não é esquecido, e as guitarras não deixam de ser parceiras na construção de algumas outras canções que fazem de Black Hours uma experiência onde sugestões de familiaridade e surpresa andam de mãos dadas (há até ecos bluesy rockabilly pelo caminho). Acrescentem-se ainda colaborações (bem consequentes) com nomes como Rostam Batmanglij, dos Vampire Weekend (que produz o disco e coescreve dois temas), Morgan Henderson dos Fleet Foxes ou Richard Swift dos The Shins, e encontre-se aqui a coleção de ideias e temperos que fazem de uma estreia a solo um momento que, mesmo com afinidades com a obra em banda que a precede, não lhe pede uma caução. Não sei quanto tempo durará o hiato, dos Walkmen, mas com Hamilton Leihauser a solo ganhamos mais um nome que vale a pena acompanhar.