quarta-feira, julho 09, 2014

Novas edições:
Blondie

“Blondie 4(0) Ever / Ghosts of Download
Noble ID
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Podemos dizer que foi com os Blondie (assim como com os Talking Heads, The Shirts e The B-52’s, mas todos estes um pouco depois) que o punk descobriu como mudar a pop. Partilhando com os Ramones, Television e Patti Smith, entre outros, o palco do CBGB quando a coisa ainda não estava na mira das grandes atenções (não esgotando naturalmente aí a sua agenda de apresentações nesses primeiros dias), o grupo liderado por Debbie Harry e Chris Stein abriu cedo horizontes não apenas a heranças clássicas da canção pop, mas também a novos ingredientes e condimentos que foram emergindo, do disco às electrónicas. E entre o seu álbum de estreia Blondie (1976) e Autoamerican (1980), pelo caminho passando pelos mais marcantes Plastic Letters (1978), Parallel Lines ( 1978) e Eat To The Beat (1979), definiram uma das mais apetitosas obras pop da segunda metade dos setentas, em parte ajudando a definir caminhos que a música seguiria nos oitentas (e convém explicar aqui que a sua exposição no Reino Unido teve então um papel fulcral no redimensionar da sua projeção rumo à pop). Separaram-se pouco depois de editado o menor The Hunter (1982), regressando 15 anos depois, primeiro rumo aos palcos, depois apresentando um novo disco em 1999 no qual incluíram Maria, canção cuja projeção global dela fez dos raros exemplos de criações pós-reunião a merecer habitar (pela popularidade alcançada) junto aos clássicos da sua primeira etapa de vida. O êxito de Maria deu visibilidade a No Exit, álbum de reunião que, mesmo longe dos tropeções de uns Bauhaus ou Culture Club, em nada repetia o brilho (e a consequência) de outros tempos. O grupo manteve todavia a atividade e tem editado novos discos, a esse primeiro instante pós-reagrupamento juntando-se The Curse of Blondie (2003) e o quase invisível The Panic of Girls (2011)... Agora, a assinalar os seus 40 anos de vida, eis que propõem um três em um. Num formato de duplo CD este é ao mesmo lado um disco com um efeito ‘best of’ (um), mas na verdade apresenta, salvo em Maria, novas gravações das suas canções históricas (dois). Como extra, serve-se ainda The Ghosts of Download (três), um novo álbum de originais. Comecemos por este último. É um pequeno grande mundo de acontecimentos, revelando um daqueles discos em regime cada tiro seu melro, o que não quer dizer que haja sempre pontaria. Há boas canções, sobretudo aquelas em que vemos os Blondie a recuperar a essência do seu som clássico (como o fizeram os Duran Duran em All You Need Is Now). Há colaborações interessantes (sobretudo a parceria com Beth Ditto). E uma procura, nem sempre bem sucedida, de pontes latino-americanas (heranças dos dias de The Tide is High?) em parcerias com os colombianos Systema Solar (conferindo travo de cumbia a Sugar on The Side) ou os panamianos Los Rakas (juntando hip hop latino em I Screwed Up). Mas mais bizarra mesmo é uma abordagem a Relax dos Frankie Goes To Hollywood que, por muito interessante que seja a ideia de transgredir o original, acaba híbrido de memória e de coisa à la Nouvelle Vague que aqui não brilha. O disco de inéditos é mesmo assim mais agradável de escutar que o ‘best of’ regravado. É verdade que estão ali canções absolutamente fabulosas, mas as algumas das novas abordagens parecem servidas com calmantes e amaciadores, tirando-lhes o brilho, angulosidade e viço que escutamos nos originais. Há momentos bem conseguidos, como em Hanging on The Telephone, Call Me, Atomic ou Rip Her To Shreds, mas um ‘best of’ de facto serviria bem melhor as memórias que aqui de evocam.