segunda-feira, julho 07, 2014

Judite Sousa e o "Correio da Manhã"

I. Retenho as sábias palavras de Ferreira Fernandes em crónica publicada no Diário de Notícias, com o título exemplar de 'Pudor, isso, pudor': "Se eu mandasse num jornal e conhecesse a Judite Sousa a ponto de ir ao funeral do filho dela, não faria as indecentes capas que o Correio da Manhã tem feito sobre a morte do filho de Judite Sousa. E o meu pudor maior nem seria com Judite Sousa, mas com o filho" [em cima, a capa da edição do dia 4 de Julho — outras podem ser consultadas no site do CM].

II. De facto, mais do que nunca, importa discutir no interior da profissão jornalística a degradação moral e deontológica do próprio jornalismo. Não para demonizar A, B ou C. Muito menos para santificar seja quem for. Apenas porque essa degradação afecta todo o jornalismo, em última instância desautorizando o seu papel social junto dos cidadãos.

III. A imposição do imaginário dos "famosos", com a sua colecção diária de aventuras sexuais, intrigas estúpidas e sugestões torpes corresponde ao triunfo da faceta mais medíocre do jornalismo — e se alguns desses "famosos" se deixam enredar em tal mediocridade, isso quer dizer dizer apenas que importa também questionar a sua visão do factor humano. Porque o que está em causa é isso mesmo: a humanidade que ainda nos resta reduzida a matéria descartável, alheia a qualquer pudor.