Beau Willimon conseguiu transportar a essência de uma ideia de jogos de bastidores do Parlamento Britânico para os espaços do Congresso em Washington D.C. E é aí que centra uma narrativa que tem por centro de gravidade a figura de Frank Underwood (Kevin Spacey) e a ele junta, entre outros, a presença da sua mulher, Claire Underwood (interpretada por Robin Wright, que veste a pele da chefe de uma ONG e que navega nos meandros do poder com a mesma ginástica e saber do marido), uma jornalista (interpretada por Kate Mara e cujo papel revela uma figura-peão manipulada por Frank, que assim tem uma voz garantida nos media), um congressista com um problema de consumo de drogas (Corey Stall) e que acaba também como peão do protagonista ou um lobista (Mahershala Ali) que se comporta em função dos interesses daqueles que representa no momento... Frank é quem joga. Os que o rodeiam são as peças que move num tabuleiro que procura controlar, mesmo sabendo que aqui ou ali poderá perder uma peça ou mesmo batalha... Porque há eventualmente ganhos adiante. O jogo, esse, é quase sempre sujo. Mas apresentado com educação e cortesia. E uma dose valente de sarcasmo, sobretudo nos frequentes momentos em que a personagem interpretada por Kevin Spacey rompe a quarta parede, enfrenta a câmara e, olhos nos olhos com o espectador, comenta para quem está em casa o que sabe que não pode dizer às personagens que tem a seu lado ali mesmo, onde decorre a ação.
Apesar de algumas comparações que foram já traçadas entre a série e memórias de algumas das mais elaboradas tramas de Shakespeare, House of Cards é todavia um produto do presente e um fruto de um tempo em que a cultura televisiva fez dos espaços e dos protagonistas da política figuras e lugares que entram no nosso dia a dia ao premir de um botão.
Apesar de algumas comparações que foram já traçadas entre a série e memórias de algumas das mais elaboradas tramas de Shakespeare, House of Cards é todavia um produto do presente e um fruto de um tempo em que a cultura televisiva fez dos espaços e dos protagonistas da política figuras e lugares que entram no nosso dia a dia ao premir de um botão.
Numa crítica publicada pela New Yorker em fevereiro de 2013 (quando o Netflix lançou toda a primeira série), Emily Nussbaum comentava que House of Cards era, na essência, “uma meditação sobre a amoralidade que nos diz acima de tudo o que já sabíamos”. As palavras de Barack Obama suavizam contudo o cenário ao estabelecer uma fronteira entre a ficção e a realidade quando nota que a “eficiência” de Underwood não corresponderá eventualmente ao que sucede nos bastidores da política. O sentido de realismo procurado pela série tenta todavia esbater essa linha de fronteira, que chega num tempo de desencanto generalizado dos cidadãos com os políticos (que teve curioso fenómeno de exceção no modo como os americanos aderiram, sobretudo em 2008, à mensagem de “mudança” proclamada pela primeira campanha de Obama). O gosto de cada um pelas teorias de conspiração que defina, agora, como nos podemos relacionar com a Washington D.C. de Frank Underwood. É mesmo assim?...