sexta-feira, julho 25, 2014

Contar uma história de amor
na Palestina do nosso tempo


O mundo não é apenas o que vemos nos noticiários. E ao cinema começa a caber um importante papel na exploração da complexidade do mundo de relacionamentos entre israelitas e palestinianos. A juntar a filmes como Belem (do israelita Yuval Adler, que terá estreia em salas portuguesas em agosto) ou Out In The Dark (do também israelita Michael Mayer, que encerrou a edição 2013 do Queer Lisboa), Omar (do palestiniano Hany Abu-Assad) é um espantoso olhar não maniqueísta sobre a dimensão humana (e portanto mais focada em personagens) de um espaço do qual nos chegam sobretudo ecos de conflitos maiores.

O filme, que foi um dos cinco nomeados para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, toma como protagonista um padeiro que frequentemente salta o muro para visitar a jovem Nadia, com quem vive um discreto e casto romance às escondidas, esperando os dois o dia em que Omar torne o segredo uma verdade oficial junto da família. Com o irmão de Nadia, Omar e mais um amigo atacam uma noite um posto de vigilância israelita e, depois de detido, torturado e sob ameaça, Omar torna-se involuntário informador. Estar com um dos lados pode por ali ser em alguns casos traição para o outro (como em breve veremos em Belém). Mas estar – mesmo que forçado - com os dois é um fardo destrutivo sob o qual o presente de Omar se passa a desenhar.

Com o quotidiano dos territórios ocupados por cenário que se mostra filtro, sem poupar inclusivamente um olhar crítico sobre o autoritarismo e abusos de poder de quem o exerce, Omar opta contudo por, tal como se viu em Out in The Dark, não perder nunca a dimensão da história pessoal. É assim, e na essência, e sem nunca voltar as costas aos episódios de medo e violência que habitam o cenário e as vidas dos que ali acompanhamos, um filme sobre o amor.