No primeiro episódio da série Cosmos: A Spacetime Odissey, Neil DeGrasse Tyson recorda um momento dos seus dias de juventude. Com o desejo em ser astrofísico já bem desenhado no mapa dos seus anseios, Neil dava já conferencias aos 15 anos de idade. Em 1975, tinha ele 17 anos, enviou uma candidatura para a Cornell University. O pedido foi parar às mãos de Carl Sagan. E este tomou a iniciativa de o contactar pessoalmente, convidando-o a ir a Ithaca (no estado de Nova Iorque). O jovem Neil aceitou e fez a visita que o próprio Sagan guiou. E ao fim do dia o famoso astrofísico rabiscou o seu número de telefone. Se perdesse o transporte de regresso ao Bronx, teria ali casa onde dormir. “Já sabia que queria ser um cientista. Mas naquela tarde aprendi, com Carl, que tipo de pessoa queria ser”, explica na série na qual hoje o vemos como um herdeiro natural do criador do Cosmos original. Neil acabaria por escolher Harvard. Mas em Sagan reconheceu desde sempre um mentor.
Além do trabalho de investigação científica e de cargos administrativos, descobriu cedo um talento para a divulgação. Talento que tanto foi manifestando em livros – de Merlin’s Tour of The Universe, de 1989, aos mais recentes The Pluto Files: The Rise and Fall of America's Favorite Planet (de 2009) ou Space Chronicles: Facing the Ultimate Frontier (de 2012) – como em progressivamente mais mediáticas colaborações na televisão. Passou pelo PBS, mais tarde pelos programas de John Stewart ou Stephen Colbert. E em todos eles mostrou uma rara capacidade em falar de ciência num plano de entendimento com assuntos do quotidiano e, frequentemente, incursões pelos universos da cultura pop.
Num dos textos que inclui em Morte Por Buraco Negro (livro de 2007 que teve edição entre nós pela Gradiva na coleção Ciência Aberta) comenta o modo como o cinema abordou o livro Contacto, a incursão de Carl Sagan pelos universos da ficção. Em Contacto Sagan aproveitava para refletir sobre o que poderia ser o primeiro “contacto” entre seres humanos e uma mensagem proveniente de uma civilização alienígena, ao mesmo tempo acrescentando à narrativa, através das suas personagens principais, um estimulante debate sobre as diferenças entre o pensamento científico e a fé.
Na adaptação ao grande ecrã, por Robert Zemeckis (com Jodie Foster no papel principal), Neil encontrou o que descreve como “uma gaffe particularmente embaraçosa”. Confessa que nunca leu o livro mas viu o filme. Eu li o livro e vi o filme, e posso acrescentar que ficou mal servido. Num dos diálogos da personagem de Jodie Foster com o ex-sacerdote, interpretado por Matthew McConaughey, ela diz que “só existem 400 mil milhões de estrelas na galáxia, e se só numa num milhão tiver planetas, e só numa num milhão dessas tiver vida e só uma num milhão dessas tiver vida inteligente, isso ainda nos deixa milhões de planetas por explorar”, cita Neil. E acrescenta logo: “Errado!”... Se seguirmos, como explica, os números que apresenta, “isso deixa-nos 0,0000004 planetas que têm vida inteligente, um número ligeiramente mais pequeno que milhões”. Ele mesmo reconhece que “não há dúvida de quem ‘uma num milhão’ soa melhor que ‘uma em dez’, mas não se consegue falsificar a matemática”.
Além do trabalho de investigação científica e de cargos administrativos, descobriu cedo um talento para a divulgação. Talento que tanto foi manifestando em livros – de Merlin’s Tour of The Universe, de 1989, aos mais recentes The Pluto Files: The Rise and Fall of America's Favorite Planet (de 2009) ou Space Chronicles: Facing the Ultimate Frontier (de 2012) – como em progressivamente mais mediáticas colaborações na televisão. Passou pelo PBS, mais tarde pelos programas de John Stewart ou Stephen Colbert. E em todos eles mostrou uma rara capacidade em falar de ciência num plano de entendimento com assuntos do quotidiano e, frequentemente, incursões pelos universos da cultura pop.
Num dos textos que inclui em Morte Por Buraco Negro (livro de 2007 que teve edição entre nós pela Gradiva na coleção Ciência Aberta) comenta o modo como o cinema abordou o livro Contacto, a incursão de Carl Sagan pelos universos da ficção. Em Contacto Sagan aproveitava para refletir sobre o que poderia ser o primeiro “contacto” entre seres humanos e uma mensagem proveniente de uma civilização alienígena, ao mesmo tempo acrescentando à narrativa, através das suas personagens principais, um estimulante debate sobre as diferenças entre o pensamento científico e a fé.
Na adaptação ao grande ecrã, por Robert Zemeckis (com Jodie Foster no papel principal), Neil encontrou o que descreve como “uma gaffe particularmente embaraçosa”. Confessa que nunca leu o livro mas viu o filme. Eu li o livro e vi o filme, e posso acrescentar que ficou mal servido. Num dos diálogos da personagem de Jodie Foster com o ex-sacerdote, interpretado por Matthew McConaughey, ela diz que “só existem 400 mil milhões de estrelas na galáxia, e se só numa num milhão tiver planetas, e só numa num milhão dessas tiver vida e só uma num milhão dessas tiver vida inteligente, isso ainda nos deixa milhões de planetas por explorar”, cita Neil. E acrescenta logo: “Errado!”... Se seguirmos, como explica, os números que apresenta, “isso deixa-nos 0,0000004 planetas que têm vida inteligente, um número ligeiramente mais pequeno que milhões”. Ele mesmo reconhece que “não há dúvida de quem ‘uma num milhão’ soa melhor que ‘uma em dez’, mas não se consegue falsificar a matemática”.
A personagem de Jodie Foster refere-se em concreto à famosa equação de Drake, que Carl Sagan de resto explicara no “seu” Cosmos. Trata-se de um cálculo das probabilidades de existência de vida inteligente no universo. Mas que, no filme, pelos vistos, surge com as contas... erradas.
(continua)