sábado, maio 31, 2014

Sob o signo de Beethoven

LUDWIG van BEETHOVEN
por Andy Warhol (1987)
* Quinta, 29 Mai 2014, 21:00 - Fundação Gulbenkian, Grande Auditório
> Daan Janssens — (... revenir dans l'oubli...)
> Ludwig van Beethoven — Sinfonia nº9, em Ré menor, op. 125, «Coral»

Combinação insólita, porventura pouco apelativa para alguns espectadores (havia sinais dispersos de incómodo no intervalo...), a meu ver muito interessante: precedendo a Nona de Beethoven, o Coro e a Orquestra Gulbenkian, com direcção de Paul McCreesh (que iniciou as suas funções na temporada que está a terminar), interpretaram uma composição (de cerca de 15 minutos) do belga Daan Janssens, encomendada pela própria Fundação. Não se tratou de uma encomenda abstracta mas, como o próprio Janssens refere no programa, de uma proposta de Risto Nieminen (director do Serviço de Música), no sentido de criar uma obra para ser escutada num programa conjunto com aquela sinfonia.
Daan Janssens
O resultado foi um concerto em dois tempos claramente contrastados, cada um obedecendo a uma dramaturgia de crescente inquietação, unidos pela mesma noção de progresso (aproprio-me do termo aplicado por João Pedro Louro, no seu texto de apresentação da obra de Beethoven). Se podemos arriscar uma "actualização" da renovada sedução da monumental Nona Sinfonia, diremos que a sua aliança de "beleza e terror" [Jan Swafford] nos projecta num especialíssimo espaço de celebração, em tudo e por tudo distinto das noções correntes de espectáculo que se vão esgotando na produção de clímaxes mais ou menos artificiais — a música de Beethoven é uma matéria que desenha a possibilidade de um destino, tanto quanto o desejo de o questionar e superar.
Será que a marca de McCreesh já se vislumbra na performance da Orquestra Gulbenkian? Difícil dizê-lo, naturalmente, até porque, sem que isso belisque as qualidades do maestro, importa não esquecer que não estamos perante um conjunto de músicos à procura da sua "identidade". Em todo o caso, dir-se-ia que McCreesh optou por acentuar as arestas da própria obra, não temendo impelir a orquestra para os mais arriscados ziguezagues sonoros e emocionais — foi o derradeiro concerto da Orquestra nesta temporada e o mínimo que se pode dizer é que as expectativas para 2014/15 são as melhores.