quinta-feira, maio 22, 2014

Novas edições:
Yann Tiersen, Infinity

Yann Tiersen
“Infinity”
Mute / PIAS
2 / 5

Caminhando numa linha entre música pop e os espaços de invenção instrumental, o bretão Yann Tiersen tinha já alguns discos editados e outros trabalhos anteriores para o cinema quando a música que compôs para o filme O Fabuloso Destino de Amelie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, o pôs nas bocas do mundo (e que de longe representa o melhor da sua obra). Na verdade estão perto desse filme os dois álbuns que o afirmaram como uma voz diferente, própria. Foram eles Le Phare (1998) e o seu sucessor L’Absente (de 2001, onde colaboravam Neil Hannon e Lisa Germano), ainda hoje as peças centrais da sua discografia e claras evoluções de uma visão nascida de escola clássica e de uma atenção para com terrenos folk, que antes afirmara nos quase ignorados (mas decididamente promissores) La Valse des Monstres (1995) e Rue des Cascades (1996). A visibilidade conquistada depois do filme de Jeunet, vincada depois com novo trabalho de sucesso no cinema em Adeus Lenine, fizeram de Yann Tiersen uma figura presente em circuitos de concertos, a sua música cativando ora os amantes de bandas sonoras ou das esferas mais pop da world music. A evolução da sua discografia não foi contudo capaz de repetir os momentos que antes revelara, a progressiva assimilação de linguagens do universo pop/rock, sobretudo entre ecos do “prog”, tendo diluído as mais pungentes marcas de personalidade disco após disco. E Infinity, agora editado, não é mais senão uma nova expressão desse trajeto. Gravado na Islândia, vincando “exotismos” ao apresentar momentos vocais em islandês, mas também em bretão, o álbum é mais uma aventura sinfonista em terreno que pisca olho a heranças do progressivo, ocasionalmente abrindo espaço para as pequenas filigranas de acontecimentos que em tempos faziam da sua música peças de frágil e luminosa beleza. Os episódios de mais evidente minimalismo são interessantes, sobretudo os que caminham nas periferias do silêncio. Mas as canções, que dominam o alinhamento (algumas delas em modo de somar e somar som sem nada acrescentar), em nada repetem a visão bretã para uma música pop contemporânea que em tempos nos deu pérolas como Monochrome, La Parade ou Les Jours Tristes... Yann Tiersenn é hoje um nome. Mas longe vai o tempo em que os seus discos eram coisa de entusiasmar. Pelo menos por estes lados...